Caracterização molecular e prospecção de combinações antifúngicas sinérgicas “in vitro” frente a Trichosporon asahii, antes e após exposição prolongada ao fluconazol
Resumo
A ocorrência de micoses invasivas causadas por patógenos fúngicos emergentes tem aumentado consideravelmente nas últimas décadas. O gênero Trichosporon compreende espécies relevantes neste cenário, devido à reduzida suscetibilidade à anfotericina B (AMB) e às equinocandinas, bem como o aparecimento de cepas resistentes aos antifúngicos azólicos, em especial ao fluconazol (FCZ). Dentre as estratégias para combater as falhas terapêuticas, a combinação de fármacos com distintos mecanismos de ação tem merecido atenção. Este estudo objetivou identificar genotipicamente os isolados clínicos (n=30), bem como avaliar a suscetibilidade in vitro de T. asahii, antes e após exposição prolongada ao fluconazol. Os agentes testados foram os antifúngicos AMB, FCZ, itraconazol (ITZ), voriconazol (VCZ), posaconazol (POS), caspofungina (CPF), micafungina (MCF) e anidulafungina (AND), e compostos não antifúngicos tacrolimus (FK506), disseleneto de difenila (DPDS) e ebselen (EBS); todos testes foram realizados pela determinação das concentrações inibitórias mínimas (CIMs), conforme o protocolo M27-A3 (CLSI, 2008). T. asahii apresentou-se como a única espécie identificada molecularmente dentre os isolados provenientes de amostras de urina e sangue caracterizados. As CIMs confirmaram a resistência intrínsica de T. asahii às equinocandinas (CIMs ≥ 4 μg/mL), bem como a superioridade dos compostos triazólicos frente a essa espécie. Ademais, foi possível observar que, com exceção da AMB (CIM90 = 1 μg/mL), os isolados FCZ-resistentes (FR) foram menos sensíveis aos azólicos do que o grupo FCZ-sensível (FS), sendo esse fenômeno de resistência cruzada mais expressivo frente ao ITZ (90%), seguido do POS (36,67%) e VCZ (10%). Os resultados das associações de antifúngicos e não antifúngicos frente aos grupos de T. asahii FS e FR foram avaliados pelo método de microdiluição checkerboard. O FK506 (CIMs > 64 μg/mL), assim como o DPDS (CIMs ≥ 8 μg/mL), não demonstraram satisfatória ação antifúngica frente T. asahii FS e FR. Entretanto, consideráveis percentuais de interações sinérgicas foram exibidos na associação de AMB + FK506 (96,67%), CPF + FK506 (73,33%) e AMB + DPDS (90%) frente aos isolados FS, assim como frente ao grupo de T. asahii FR: CAS + DPDS (96.67%), AMB + DPDS (93.33%), FCZ + DPDS (86.67%), and ITZ + DPDS (83.33%). Por outro lado, o organocomposto EBS destacou-se pelos baixos valores de CIMs (0,25 - 8 μg/mL) quando testado isoladamente, além do sinergismo na associação com AMB (90%) sobre T. asahii FR. Adicionalmente, foram testadas combinações AMB e equinocandinas ou FCZ, e CPF + FCZ frente aos isolados FR que, com exceção da combinação CPF + FCZ (66,67% de sinergismo), resultaram em predomínio de atividade indiferente. Interações antagônicas não foram observadas nas associações entre antifúngicos. Neste contexto, a exposição in vitro a concentrações crescentes de fluconazol é um fator importante para a emergência de resistência em T. asahii, fenômeno este que agrega consequências para o perfil de suscetibilidade desta espécie. Além disso, os sinergismos observados in vitro, são promissores para o desenvolvimento de estudos in vivo, bem como elucidar a atividade do FK506 e organocompostos de selênio contra T. asahii.
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