Helmintofauna de anuros em campo nativo e área de cultivo no sul do Brasil
Abstract
Os Campos Sulinos são formações campestres onde se encontra grande biodiversidade, porém a conservação desses campos tem sido negligenciada, enquanto a descaracterização e a perda de habitat avançam em taxas alarmantes. Os impactos da perda de habitat afetam negativamente a biodiversidade, inclusive a dinâmica e a composição das comunidades de hospedeiros e parasitas. Apesar da importância, a fauna parasitária de animais silvestres tem sido pouco estudada, o que motivou o desenvolvimento do presente estudo, visando contribuir para o conhecimento da helmintofauna de anuros nos Campos Sulinos. Dessa forma, nós: (1) descrevemos a composição da comunidade de helmintos em sete espécies de anuros na região dos Campos Sulinos; (2) comparamos campo nativo e cultivo agrícola quanto aos parâmetros de infecção parasitária utilizando quatro espécies de anuros hospedeiros, e (3) testamos se descritores ambientais medidos em múltipla escala (local, espacial e da paisagem) influenciam as métricas de infecção parasitária dos anuros na região dos Campos Sulinos. Os anuros hospedeiros foram amostrados entre janeiro e fevereiro de 2016, utilizando o método ‘busca em sítios de reprodução’ em 34 poças (15 em cultivo agrícola e 19 em campo nativo) distribuídas nos estados de Santa Catarina e Paraná. Encontramos 25 taxa de helmintos pertencentes às classes Monogenea, Trematoda (Digenea), Cestoda e Nematoda, distribuídas nas sete espécies de anuros hospedeiros. Dentre estes, nós registramos pela primeira vez o gênero Hedruris no Brasil, bem como apresentamos as primeiras informações sobre helmintos parasitas para cinco das sete espécies de anuros hospedeiros. Houve diferença significativa entre campo nativo e cultivo agrícola quanto à estrutura das comunidades de helmintos nos hospedeiros Aplastodiscus perviridis, Leptodactylus latrans e Pseudis cardosoi. De forma complementar, foram encontrados helmintos indicadores de áreas nativas e cultivadas: o monogenoide Polystoma cuvieri (em Physalaemus cuvieri) e o cestódeo Ophiotaenia sp. (em Pseudis cardosoi) para campo nativo, bem como o trematódeo Choledocystus elegans (em Leptodactylus latrans) e a larva plerocercoide (Cestoda) (em Aplastodiscus perviridis) para o cultivo agrícola. A prevalência de infecção parasitária geral foi maior no cultivo agrícola (94%) do que no campo nativo (84%). Os parâmetros de infecção, por espécie de hospedeiro, geralmente evidenciaram prevalência e intensidade de infecção maiores no cultivo agrícola do que no campo nativo. Porém registramos assimetria na resposta parasitária, o que parece estar relacionado ao habito de vida do hospedeiro e requerimentos do parasita, dentre outros fatores. Os modelos de regressão generalizados empregados evidenciaram que os descritores ambientais explicaram a maioria dos parâmetros de infecção parasitária nos anuros hospedeiros estudados. Os descritores locais (i.e. das poças) foram mais importantes para explicar as métricas do parasitismo, seguidos pelos descritores da paisagem. Os descritores ligados à espacialidade das poças não foram significativos, sugerindo que processos ligados à dispersão dos parasitas foram pouco importantes na região estudada. Nosso trabalho evidencia que o cultivo agrícola altera negativamente as métricas do parasitismo dos anuros na região dos Campos Sulinos.
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