Envolvimento dos sistemas purinérgico, colinérgico e estresse oxidativo nos distúrbios da tireoide: possível efeito protetor da quercetina
Resumo
Os hormônios tireoidianos modulam as rotas metabólicas no organismo e apresentam funções fisiológicas
importantes no cérebro e sistema vascular. Alterações na sua produção ou distribuição levam a distúrbios
como o hipotireoidismo e o hipertireoidismo, os quais estão relacionados à mudanças na função endotelial,
contribuindo para uma maior incidência de doenças vasculares, além de possuírem relação com a formação
de espécies reativas de oxigênio (ERO). Além disso, no Sistema Nervoso Central (SNC), o envolvimento
dos sistemas purinérgico e colinérgico nos distúrbios tireoidianos vem ganhando importância. Adenosina
trifosfato (ATP) e acetilcolina (ACh) são moléculas de sinalização extracelular no SNC e outros tecidos que
ao serem liberadas são degradadas pela ação das ectonucleotidases e da acetilcolinesterase (AChE),
respectivamente. Juntamente com o ATP, o ADP, o AMP e a adenosina (Ado) regulam processos fisiológicos
como a agregação plaquetária e o tônus vascular. Neste contexto, o objetivo deste estudo foi avaliar o efeito
do tratamento com quercetina na atividade das ectonucleotidases e da AChE em sinaptossomas de córtex
cerebral de ratos com hipotireoidismo. Além disso, avaliar a atividade e expressão das ectonucleotidases em
plaquetas e biomarcadores de estresse oxidativo em modelo experimental de hipotireoidismo e
hipertireoidismo e em pacientes com hipotireoidismo pós-tireoidectomia. O hipotireoidismo e o
hipertireoidismo nos modelos animais foram induzidos pela administração de metimazol ou L-Tiroxina,
respectivamente, durante 30 dias. O tratamento com quercetina 10 ou 25 mg/kg iniciou após a indução do
hipotireoidismo ser confirmada e seguiu-se por 60 dias concomitantemente à administração de metimazol.
As coletas dos pacientes foram realizadas aproximadamente 45 dias após a tireoidectomia. Os resultados
demonstraram que o hipotireoidismo causou uma diminuição na atividade da AChE em sinaptossomas de
córtex cerebral e o tratamento com quercetina manteve essa atividade diminuída. Testes in vitro confirmaram
a inibição da AChE proporcional à dose de quercetina testada, o que sugere que ela poderia ser utilizada
como adjuvante no tratamento de desordens neurológicas. A atividade da NTPDase não foi alterada no
hipotireoidismo, mas a hidrólise de AMP pela ecto-5'-nucleotidase (E-5’-NT) aumentou. O tratamento com
quercetina causou uma diminuição nas atividades da NTPDase, E-5’-NT e adenosina desaminase (ADA), o
que poderia contribuir para níveis moderadamente aumentados de Ado no SNC. Como a Ado atua como uma
molécula neuroprotetora esse pode ser um dos mecanismos pelos quais a quercetina exerce os seus efeitos
benéficos no SNC. Os resultados encontrados em plaquetas mostraram uma diminuição nas atividades da
NTPDase e E-5'-NT e um aumento nos níveis de ATP, ADP e AMP em animais com hipertireoidismo. Já os
níveis de Ado foram menores, o que pode ser atribuído à atividade reduzida da 5'-NT e aumentada da ADA.
Os animais com hipotireoidismo apresentaram diminuição apenas na atividade da E-5’-NT e aumento nos
níveis de AMP, o que pode ser devido à maior hidrólise de ATP a AMP pela ectonucleotídeo
pirofosfatase/fosfodiesterase (NPP), que aumentou em ambos os grupos. No terceiro trabalho desta tese os
resultados mostraram um aumento nas atividades das enzimas do sistema purinérgico em pacientes com
hipotireoidismo. Além disso, a expressão de NTPDase 1 (CD39) também foi maior, indicando que o impacto
da remoção da tireoide pode causar mudanças importantes a nível molecular. Os níveis de Ado foram
menores nos pacientes e a atividade da ADA aumentada. Observamos também alterações nos parâmetros
redox como: aumento na produção de ERO, na peroxidação lipídica, na carbonilação de proteínas, nos níveis
de T-SH, NPSH e ácido ascórbico, além de diminuição da atividade da GST. Sugerimos com esses resultados
que o estresse oxidativo apresentado por pacientes possui relação com o aumento na atividade das
ectonucleotidases e da ADA, o que foi demonstrado pela correlação positiva entre a produção de ERO e as
atividades enzimáticas. Por fim, os resultados apresentados podem ajudar a compreender as alterações
metabólicas que ocorrem nos distúrbios da tireoide, com o envolvimento dos sistema purinérgico e
colinérgico e do estresse oxidativo, e a buscar terapias que previnam o agravamento das doenças.
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