Construindo a sustentabilidade dos povos da maré através da co-inovação
Resumo
A perspectiva “modos de vida” nos remete a pensar em estratégias de subsistencia das
familias, que são variáveis conforme o contexto e as visões de mundo construídas na trajetória
histórica de cada comunidade tradicional. Os modos de vida constituem sínteses de visões de
mundo, de perspectivas, de artes de trabalho e especialidades, conjugados num processo de
adaptação ao lugar e a seus recursos, imprimindo perspectivas de bem viver como
aprendizados sociais. Nessa tese buscou-se refletir sobre a proposta de convergência para a
construção coletiva do conhecimento e inovação com povos tradicionais. Atualmente os
desafios da pesquisa para o desenvolvimento são majoritariamente relativos às formas de
interação entre conhecimento científico-popular. Estudos de caso acerca de esforços de coconstrução
revelam que o processo mostra-se permeado pelas configurações específicas das
relações sociais em cada sociedade; onde as representações que cada um faz do outro são
fortes balizadores do comportamento dos atores participantes do processo e têm limitado as
possibilidades de interações desejadas. Assim, procuramos, através da observação
participante, fazer uma análise contextual de estratégias de sobrevivência; da construção
social do conhecimento na instituição de um sistema local de conhecimento e inovação e
avaliar a presença da pesquisa cientifica neste; e por fim, analisar a possibilidade de uma nova
abordagem para a pesquisa, baseada na co-inovação no contexto concreto dos povos da maré
do complexo estuarino do rio Formoso, Pernambuco, Brasil. No estudo encontramos um
grupo social peculiar envolvido, e inserido, em uma complexa rede de influências e
interferências, de pressões e oportunidades. Verificamos que o extrativismo de recursos do
mangue tem papel importante nas estratégias de subsistência das famílias e que o modo de
vida do povo da maré se mantém vivo apesar das dificuldades, em função da existência de
uma identidade consolidada. A identidade, portanto, é perpetuada com base em um modo de
vida com estrategias em permanente reconfiguração com base na exploração das
oportunidades complementares à estratégia produtiva e econômica central (pesca artesanal).
Considerando oportuno seguir a proposição de uma realidade construída socialmente
verificamos como se constroem as inovações que asseguram as estratégias adaptativas,
descrevendo-se o sistema local de conhecimento e inovação em duas comunidades
verificando-se que, no caso, esses estruturam-se com foco no conhecimento do senso comum,
mas poderiam se afirmar junto à sociedade através de uma maior integração com a ciência. .
O desafio inicial para que a inovação torne-se uma ferramenta para a sustentabilidade dos
povos da maré seria de buscar estratégias conciliadoras entre os sistemas especialista e
tradicional, apontando para possível rede de diálogo convergente. O estudo de um caso de coinovação
com pescadores de Tamandare, em torno da ostreicultura, evidenciou que além de
desafios relativos a hierarquia de saberes, questões identitarias e de projeto de futuro
influenciam na dinâmica de colaboração entre pesquisadores e pescadores artesanais.
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