A resistência de pecuaristas familiares frente a dinâmica de expansão do florestamento no Pampa brasileiro e uruguaio
Resumo
Uma nova dinâmica econômica faz emergir um cenário no Pampa brasileiro e uruguaio, um rural sem produtores, tomado por produtos do agronegócio (soja ou florestamento nesse caso). Um rural onde a paisagem perdeu sua essência única e heterogênea, dando espaço para a homogeneização. Um rural com a maximização dos impactos ambientais, sociais, culturais e econômicos. Um rural com perda da biodiversidade local. Um rural que diversas comunidades locais deixaram de existir. Um rural em que há disputa de território: território do agronegócio x território da agricultura/pecuária familiar. Contudo, não podemos generalizar e devemos perceber que embora ocorram disputas pelo território, no rural ainda existem aqueles que resistem ao meio dessas mudanças, e aqui a figura central são os pecuaristas familiares que continuam nos seus espaços, persistentes, porém, rodeados pelo florestamento. Sendo assim, buscou-se responder, quais os principais fatores de resistência que os sujeitos do Pampa brasileiro e uruguaio apresentam frente à expansão da monocultura de árvores; e as implicações do avanço desses cultivos na pecuária familiar? Objetivando compreender os principais fatores de resistência de pecuaristas familiares frente à dinâmica de expansão do florestamento no Pampa brasileiro e uruguaio, bem como, as implicações do avanço desses cultivos na pecuária familiar. Para tanto, a pesquisa considerada de base qualitativa e descritiva foi realizada em quatro etapas: a primeira consistiu na pesquisa bibliográfica, para fins de construir a base teórica, possibilitando a compreensão das temáticas em questão. A segunda etapa foi a realização de um levantamento fisiográfico das áreas de expansão do florestamento no Pampa brasileiro (Rosário do Sul) e uruguaio (Rivera) e da ocorrência de propriedades de pecuária familiar próximas a essas áreas. Nesta etapa ocorreu simultaneamente a pesquisa bibliográfica e coleta de dados secundários. A terceira etapa foi a pesquisa de campo, com amostragem por saturação e intencional (não probabilística), totalizando 11 propriedades de pecuária familiar (6 brasileiras e 5 uruguaias). E, a última etapa aconteceu com a interpretação dos dados (análise de conteúdo temática). Evidenciou-se que os fatores de resistência estão atrelados as raízes agrárias, a tradição familiar, ao apego a terra, ao modo de vida, a subsistência, a sucessão, ao gosto e prazer pela atividade campeira, a fauna, a flora e o campo, a liberdade, a natureza e a exaltação da beleza cênica. As implicações citadas são de natureza ambiental, socioeconômica e cultural. Constatou-se que a resistência dos pecuaristas familiares do Pampa brasileiro e uruguaio de manterem seu modo de vida, mesmo diante dos impactos da expansão do florestamento nos seus sistemas produtivos são cunhados por motivos não econômicos.
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