Caminhos e descaminhos de desenvolvimento social e econômico – análise do espaço geográfico de Cachoeira do Sul-RS
Resumo
Este trabalho apresenta um estudo bibliográfico e empírico dialético acerca do desenvolvimento social e econômico do espaço geográfico de Cachoeira do Sul-RS, numa perspectiva local-global, especialmente no período 1970-2018, sob domínio liberal. Para tanto, subsidiados por vasta fundamentação teórica, houve a discussão conceitual acerca do desenvolvimento e suas vertentes teóricas no mundo e no contexto brasileiro. Dialeticamente, foram levantados dados sociais e econômicos oficiais – empregabilidade, geração de renda, escolaridade, dinâmica populacional, estrutura econômica, uso da terra - que buscaram diagnosticar a realidade do município, por vezes em comparação com outras cidades (Bento Gonçalves, Caxias do Sul, Lajeado, Santa Cruz do Sul e Venâncio Aires). Esse levantamento demonstrou a preocupante fragilidade econômica de Cachoeira do Sul, de baixa geração de emprego e renda, e ainda demonstrou um importante fenômeno migratório nas décadas de 1970 a 2018, distintamente dos outros municípios pesquisados. Inevitavelmente, essa discussão trouxea influência das forças externas ao desenvolvimento de Cachoeira do Sul – o Estado e os capitais nacional e estrangeiro, e seus modos de ação no espaço-tempo. Para ilustrar a fragilidade econômica do município houve ainda a análise do consumo básico da oferta de produtos nas redes supermercadistas da cidade que expôs o baixo consumo de produtos locais, a penetração de diversos produtos de cidades vizinhas e a presença de cerca de 40% de produtos estrangeiros nos itens não perecíveis. Mediante essas informações, analisou-se a estrutura fundiária do município e a suposta pujança de sua matriz econômica principal, a soja, pesquisando os efeitos dessa cultura no espaço geográfico cachoeirense. A isso, concluiu-se que a cultura da soja vem promovendo a concentração fundiária nas últimas décadas, com arrendamentos e aquisições de terras, a estrangeirização do processo produtivo e o aumento da dependência externa, gerando poucos empregos, diminuindo a produção de alimentos, repelindo pessoas do campo e causando diversos danos ambientais, sem sequer haver a tributação devida pela cultura, com a desoneração promovida pela Lei Kandir que causa concentração de capital, segregação social e remessa de lucros ao estrangeiro, reduzindo a capacidade dos municípios e estados produtores de darem conta de suas responsabilidades sociais. Essa dinâmica se sustenta em discursos hegemônicos de agentes poderosos como políticos, meios de comunicação, associações empresariais, que vem determinando o uso do espaço geográfico de acordo com seus interesses e privilégios. Mas não sem provocar a contradição de organizações sindicais, agricultores familiares e agricultores sustentáveis, desempregados ou subempregados, empresários, acadêmicos, juventude, que testemunham os impactos dessa dinâmica espacial. Diante disso, as forças resistentes do município organizam-se e buscam novas alternativas como a agricultura sustentável e em pequenas propriedades, empreendimentos agroindustriais que agreguem valor à cadeia produtiva, a retomada industrial, os investimentos em pesquisa e desenvolvimento.
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