Influência da qualidade de vida relacionada à saúde bucal no consumo de substâncias lícitas em adolescentes: um estudo de coorte
Resumo
O consumo de álcool e cigarro é considerado um dos maiores problemas de saúde pública na
atualidade. Diversos fatores de risco para o consumo destas substâncias já foram identificados.
Entretanto, a proporção de consumidores permanece alta no Brasil e no mundo, principalmente
entre adolescentes. É comprovado que preditores psicossociais exercem influência no consumo
de substâncias nocivas à saúde, uma vez que eles são capazes de influenciar a percepção do
indivíduo frente à sua posição na sociedade. Desta forma, a adoção de comportamentos de risco
frente a situações de iniquidades em saúde é facilitada. Logo, torna-se importante avaliar a
relação entre preditores psicossociais voltados para o impacto das condições bucais, como a
Qualidade de Vida Relacionada à Saúde Bucal (QVRSB), e hábitos deletérios para a saúde,
como o consumo de álcool e cigarro. O objetivo deste estudo foi avaliar a influência da QVRSB
no consumo de substâncias nocivas em adolescentes. Essa pesquisa pertence a uma coorte
prospectiva que iniciou em 2012 com uma amostra aleatória de 1134 escolares com 12 anos de
idade, na cidade de Santa Maria, RS, Brasil, os quais foram acompanhados por 6 anos. Os dados
utilizados no presente estudo foram coletados nas duas reavaliações da coorte, que ocorreram
em 2014 (T2) e 2018 (T3). A QVRSB foi mensurada através da versão brasileira reduzida do
Child Perceptions Questionnaire (CPQ11-14) no T2. Variáveis demográficas,
socioeconômicas e medidas de saúde bucal também foram coletadas neste período. O consumo
de álcool e cigarro foi avaliado através de um questionário autoaplicável no T3. Os dados foram
analisados utilizando modelos multiníveis de regressão de Poisson para investigar a influência
das variáveis preditoras no consumo de substâncias nocivas entre os adolescentes. Esta
abordagem fornece a razão de taxa de incidência (RTI) e seus respectivos intervalos de
confiança (IC). A partir dos 770 adolescentes acompanhados no T2, 561 e 562 foram
reavaliados para o consumo de álcool e cigarro, respectivamente. Adolescentes com maior
escore total no CPQ11-14 apresentaram um maior risco de consumir, regularmente, álcool (RTI
1,01; 95% IC 1,01-1,02) e cigarro (RTI 1,04; 95% IC 1,03-1,05). Em relação às variáveis
demográficas e socioeconômicas, adolescentes do sexo masculino, não-brancos, pertences a
famílias de baixa renda e cujas mães possuíam uma escolaridade inferior a 8 anos demonstraram
um maior consumo de álcool e cigarro. Além disso, participantes que não visitaram o dentista
nos últimos 6 meses e apresentavam piores condições clínicas, como cárie dentária, má oclusão
e sangramento gengival percebido, também demonstraram um risco aumentado para o consumo
dessas substâncias nocivas. Portanto, adolescentes com pior QVRSB apresentaram um maior
consumo de álcool e cigarro. Este conhecimento se torna útil para o planejamento de políticas
de saúde pública que visem melhorar a QVRSB dos adolescentes e, consequentemente,
diminuir o consumo de substâncias nocivas na sociedade.
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