Chico Buarque e Alain Robbe-Grillet: possíveis diálogos entre a prosa contemporânea brasileira e o Nouveau Roman
Resumo
Este trabalho apresenta uma análise dos romances Estorvo (1991), Benjamim
(2004) e Budapeste (2003), do escritor e compositor brasileiro Chico Buarque de
Hollanda, com o objetivo de verificar similitudes e diferenças entre tais obras e a
estética proposta pelo autor francês Alain Robbe-Grillet em seu livro de ensaios Pour
un nouveau roman (Por um novo romance, 1969). A pesquisa visa a analisar
algumas categorias que haviam sido objeto de reflexão por parte de Robbe-Grillet,
principal expoente do movimento francês Nouveau Roman, e percebidas nas obras
de Chico Buarque. Como fundamentação teórica, além da já citada obra de Robbe-
Grillet, utilizaa-se, principalmente, as obras de Roland Barthes (2004), Marc Augé
(1994), Leyla Perrone-Moisés (1966), Robert Stam (1981), entre outros. O trabalho
divide-se em quatro partes: na primeira, apresenta-se um panorama do Nouveau
Roman e da prosa contemporânea brasileira para fins de contextualização. Em
seguida, busca-se entender a representação do indivíduo na obra dos autores
estudados. Logo, no capítulo seguinte analisam-se, as semelhanças entre os
autores no que tange ao caráter visual de suas narrativas. Finalmente, verificam-se
as aproximações referentes ao aspecto autorreferencial que são possíveis de serem
percebidas no autor brasileiro e no autor francês. A partir dos resultados obtidos,
entende-se que a obra de Chico Buarque faz uma ressignificação de elementos já
encontrados na obra de Robbe-Grillet, de modo a estabelecer diálogos intertextuais,
atualizando-os para um outro contexto de produção. Tais elementos podem ser
observados na representação do indivíduo num mundo em que o homem perdeu as
certezas, diferenciando-se da representação do romance burguês praticado durante
o século XIX. Apresenta-se agora um sujeito à deriva, incapaz de construir uma
narrativa una e linear como antes. Por outro lado, a narrativa passa a adquirir um
maior caráter visual, influência direta dos novos meios de comunicação. No caso do
autor francês, verifica-se a influência do cinema e da pintura, enquanto no caso do
brasileiro, há uma intensificação dessas trocas semióticas, existindo, além do
diálogo com o cinema, uma troca com novos meios de comunicação imagéticos que
impregnaram a contemporaneidade. Por fim, é possível encontrar nos dois autores
uma ideia de literatura que já não tem a pretensão de firmar o pacto realista que
dominou o romance burguês. As obras passam a exercer um caráter antiiluisionista
e autorreflexivo, discutindo a sua própria natureza, bem como os mecanismos de
escritura.
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