Ethos e discurso feminista: a articulação de mecanismos linguísticos e a noção de ser mulher
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Data
2020-02-18Primeiro membro da banca
Garcia, Dantielli Assumpção
Segundo membro da banca
Della Méa , Célia Helena de Pelegrini
Metadata
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O objetivo desta pesquisa é esboçar um perfil de ethos que emerge de um discurso feminista, em dois
manifestos de divulgação, a partir do emprego de mecanismos linguísticos, em especial pronomes e
verbos, que auxiliam a articulação da noção de ser mulher. Para isso, fundamentamo-nos na Linguística
da Enunciação, por compreendermos que essa perspectiva permite ampla compreensão acerca da
imagem do sujeito, o ethos, esboçado por meio de mecanismos linguísticos empregados na enunciação
e recuperáveis a partir da análise das marcas deixadas no enunciado, seu produto. Como embasamento
teórico, nos apoiamos em Benveniste (1989; 1995), Amossy (2005), Maingueneau (2015), Fiorin
(2008), Flores e colaboradores (2013; 2017), Flores (2013), Flores e Teixeira (2012), entre outros.
Metodologicamente, analisamos dois manifestos de divulgação que discorrem sobre concepções
feministas: Feminismo em comum: para todas, todes e todos, de Márcia Tiburi (manifesto FC) e, Vamos
juntas? O guia da sororidade para todas, de Babi Souza (manifesto VJ). Quantitativamente, a análise
dessas materialidades consistiu na identificação, descrição e categorização dos pronomes pessoais do
caso reto e dos verbos, na primeira e terceira pessoas do singular e do plural, em que priorizamos,
unicamente, as sequências em que tais classificações gramaticais estavam relacionadas com a noção de
ser mulher. Qualitativamente, de acordo com os métodos da transversalidade enunciativa (FLORES,
2010) e do paradigma indiciário (GINZBURG, 1989), refletimos sobre os efeitos de sentido decorrentes
do uso desses mecanismos, contribuindo para esboçar o perfil de ethos que emerge de um discurso
feminista de divulgação. Os resultados alcançados na análise quanti-qualitativa dão conta de explicitar
que, no manifesto FC, encontram-se o maior número de pronomes e verbos nas terceiras pessoas. Porém,
como possui, também, marcas de primeiras pessoas, evidenciamos um movimento linguístico na postura
do locutor, o que nos indica um ser que aborda a questão de ser mulher de duas maneiras: como mulher
e como representante social. Tal ambiguidade enunciativa nos indica um perfil de ethos ambíguo. No
que tange ao manifesto VJ, notamos que os pronomes e os verbos nas primeiras pessoas têm maior
representatividade, revelando-nos efeitos de subjetividade do locutor. Esse dado nos indica que o locutor
aborda a noção de ser mulher muito mais pela sua própria vivência, marcando-se linguisticamente por
meio do pronome eu. Assim, ele se coloca como pertencente ao grupo de mulheres, aproximando-se do
interlocutor como um porta-voz dessa coletividade. Esses efeitos relacionam-se com o processo de
apropriação da língua pelos locutores dos textos e, diante disso, compreendemos que no primeiro
manifesto emerge um perfil de ethos de tendência ambígua e, no outro, um perfil de ethos de tendência
reivindicativa-agregadora. Por fim, com esse estudo enunciativo, que considera a língua em
funcionamento, com marcas que emergem da materialidade e contribuem para traçar o ethos discursivo,
objetivamos, em um primeiro momento, fazer uma reflexão linguística em uma materialidade discursiva
para, em seguida, refletirmos sobre o lugar de fala e o posicionamento social-ideológico da figura
feminina, lançando um olhar detalhado sobre como as mulheres, em um discurso feminista, reivindicam
o seu direito de enunciar – considerando que tal direito é decorrente de um processo que considera as
condições sociais, históricas e discursivas – evidenciando uma articulação entre a Linguística da
Enunciação e os novos espaços discursivos, muitas vezes, ressignificados.
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