As narrativas das mulheres trans sobre relacionamentos no YouTube: entre a abjeção, o segredo e a gestão do estigma
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Data
2020-06-26Primeiro membro da banca
Silva, Sandra Rubia da
Segundo membro da banca
Duque, Tiago
Metadata
Mostrar registro completoResumo
Este estudo versa sobre a afetividade das mulheres trans no envolvimento com homens cisgêneros e
heterossexuais. O interesse em dissertar sobre a temática surgiu da necessidade em problematizar as
condições subjetivas e amorosas desiguais que mulheres trans foram e são condicionadas em uma
estrutura e construção social cisnormativa e transfóbica. Tendo como campo de pesquisa o YouTube,
espaço de cultura participativa que tem demonstrado aumento e adesão no número de pessoas trans
como usuárias e consumidoras do site, buscou-se compreender, a partir das narrativas de nove
mulheres trans youtubers, como a reflexividade nesse espaço é apresentada em seus conteúdos
audiovisuais acerca de suas experiências afetivo-amorosas. Ancorada à busca está à etnografia digital
e de tela, metodologias que subsidiaram a assimilação do campo digital na forma como ele molda e
produz os agenciamentos das youtubers. A partir de então, observou-se que o corpo é tema recorrente
em suas narrativas, através dele elas se materializam na rede, ganham voz e visibilidade. Também com
a capacidade reflexiva dos seus corpos adentram a modelos cisnormativos de existência, os quais
propiciam maior coerência, segurança e potencial atrativo no campo dos afetos. Esse campo tende a
apresentar dúvidas significativas se serão ou não publicamente assumidas, ou se corresponderão às
possibilidades românticas, em razão do estigma e abjeção que suas identidades carregam. Constatouse
que a abjeção, o segredo e o estigma são constituintes dos envolvimentos afetivo-amorosos dos
corpos trans femininos. Quando carregam outros marcadores sociais da diferença distanciam mais da
inteligibilidade, tornando as possibilidades românticas de serem assumidas mais escassas. A abjeção é
identificada por se tratarem de corpos que além de ultrapassarem as barreiras que regulam as normas
de gênero e sexualidade, ultrapassam outras barreiras normativas. O estigma é uma experiência
comum a todas, em razão da transgeneridade ser socialmente estruturada como uma prática dissidente
de gênero, adversa à normalidade. Finalmente, o segredo demonstrou atuar como uma estratégia para
os homens com quem se envolvem continuarem mantendo suas práticas de desejo em atividade sem
lidar com penalizações, tais como a deslegitimação de suas identidades, sexualidades e
masculinidades. Essa maneira estratégica dos homens é denunciada pelas mulheres trans dessa
pesquisa como uma finalidade única de hipersexualizá-las e manterem-nas no campo da exotificação.
Entretanto, com a reflexividade em suas produções audiovisuais buscam romper ou diminuir o estigma
e a abjeção através de denúncias pela exposição das cotidianas violências nessas interações. Também
com a exposição tornam-se representatividades para àquelas que estavam vivendo isoladamente os
mesmos conflitos.
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