O problema de se narrar a experiência e a possibilidade da escrita historiográfica no pensamento de Paul Ricoeur
Fecha
2020-03-31Primeiro coorientador
Sattler, Janyne
Primeiro membro da banca
Oliveira, Juliana Missagia
Segundo membro da banca
Nascimento, Cláudio Reichert do
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Diante do problema da relação e dos limites entre a experiência e as narrativas historiográficas e ficcionais, algumas tradições filosóficas, tais como o existencialismo e o narrativismo, aventaram posições antagônicas acerca do tema. Nesta dissertação, pretende-se, em primeiro lugar, apresentar os principais argumentos e problemas decorrentes desses posicionamentos, e, por fim, pôr à disposição uma hipótese preliminar do que, em um trabalho vindouro, pode vir a ser a solução desses impasses, tendo como fundamento a concepção hermenêutica que Paul Ricoeur (1913-2005) desenvolve em Tempo e Narrativa (1984). A primeira perspectiva a ser examinada, a saber, o existencialismo ― em que se destaca sobremaneira o pensamento Jean-Paul Sartre (1905-1980) presente em sua obra literária A Náusea (1938), em seu ensaio filosófico A transcendência do Ego: esboço de uma descrição fenomenológica (1936) e, finalmente, em sua obra magna O Ser e o Nada (1943) ―, compreende que a vida não possui de antemão uma estrutura inteligível, cabendo aos narradores a união de pontos atomizados que, sozinhos, não possuem qualquer finalidade ou sentido. Já no pensamento narrativista, por sua vez, compreende-se o prestígio das estruturas narrativas sobre a vida, de sorte que, conforme essa ótica, os sujeitos singulares, isoladamente, restam ininteligíveis, encontrando sentido apenas quando circunscritos por uma estrutura prévia de relações que são anteriores e mais duradouras que a fugacidade das vidas humanas particulares. Paul Ricoeur, por fim, encontra-se no terceiro plano de análise deste estudo ao propor uma relação dialética entre os dois polos anteriores que se antagonizam, de modo que sua teoria é tomada aqui como hipótese preambular para a superação do tensionamento entre a vida e as narrativas gerado pelo pensamento existencialista, de um lado, e à redução da vida a uma mera narrativa no pensamento narrativista, de outro. Tal discussão encontra ainda reverberações no interior da teoria da história, colocando problemas relevantes no que diz respeito à possibilidade de uma escrita historiográfica significativa e consistente do ponto de vista do rigor científico e metodológico que se espera dela. Esta dissertação irá, portanto, mais especificamente indicar alguns caminhos seguros para que a disciplina histórica mantenha sua dignidade e relevo como área de conhecimento estimável, e encontre também seu mérito nas práticas cotidianas dos seres humanos que dela se acercam.
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