Determinantes da estrutura de capital das micro e pequenas empresas: uma abordagem comportamental
Resumo
O estudo da estrutura de capital é um tema considerado, por muitos, de alta complexidade. Diversas teorias, baseadas no paradigma da racionalidade, foram criadas para explicá-la, porém cada uma, por seu turno, busca apresentar soluções à problemas específicos desta temática, perante as grandes empresas. A despeito de sua grande contribuição para o sistema econômico atual, o estudo dos determinantes da estrutura de capital das micro e pequenas empresas ainda permanece amplamente negligenciado. Neste trabalho, buscou-se estudá-los sob uma ótica complementar à abordagem tradicional. Buscou-se criar e validar um modelo capaz de abarcar as variáveis tradicionalmente ligadas ao desempenho das firmas (tamanho, crescimento da participação de mercado, crescimento dos lucros, lucratividade e estágio do ciclo de vida) com o relacionamento do gestor junto aos bancos (serviços bancários utilizados), assim como busca associar a estrutura de capital aos traços de personalidade do proprietário-gerente (otimismo, excesso de confiança, senso de controle e aversão à dívida). Para solucionar o problema de pesquisa realizou-se uma pesquisa survey, junto aos empresários do estado do Rio Grande do Sul. A amostra selecionada foi de 625 micro e pequenos empresários. Após o levantamento de dados validou-se os construtos. Mediante a modelagem de equações estruturais percebeu-se que o desempenho da firma foi o principal determinante da estrutura de capital, em que quanto maior crescimento, maior lucratividade, maior tamanho dos ativos e mais avançado o estágio do ciclo de vida, menor era a alavancagem. Conclui-se que, na medida em que a empresa oferece a oportunidade de uso de recursos gerados internamente, o empreendedor tende a preferi-los para financiar os ativos da empresa, em detrimento aos recursos externos. Destacou-se também a variável serviços bancários a qual foi positivamente associada à alavancagem. Conclui-se, portanto, que o maior número de serviços bancários, utilizados pela firma, auxilia no decréscimo da assimetria informacional, potencializando o acesso ao crédito, na medida em que o credor pode formar uma melhor imagem da empresa. De maneira complementar percebeu-se que os Traços Gerenciais tem significativa importância nas decisões sobre estrutura de capital, na medida em que as expectativas positivas, a maior confiança do empreendedor, a atitude negativa perante a dívida e a menor crença de descontrole e de incapacidade de gerenciamento da vida dos indivíduos influenciam as decisões sobre estrutura de capital das firmas, promovendo, portanto, o uso de recursos gerados internos à organização. Observou-se ainda influência, embora indireta, do gênero, uma vez que o gênero feminino influênciou de maneira negativa o desempenho das firmas e o menor uso de serviços bancários.