O "monstro" chuva na Folha de S. Paulo: o jornalismo na cobertura do desastre no litoral norte de SP
Resumo
Este trabalho realiza uma revisão bibliográfica dos desastres vistos das diferentes áreas, uma conceituação do papel do jornalismo neste cenário, a fim de criar suporte teórico para analisar a primeira semana da cobertura jornalística do desastre ocorrido no litoral norte de São Paulo em 2023. Para isso, criamos um protocolo autoral com base em Amaral, Lozano Ascencio e
Puertas Cristobal (2020) e em conceitos de Amaral, Loose e Girardi (2020). Com ele, buscamos entender como o acontecimento foi denominado e quais as explicações foram acionadas pela Folha de São Paulo na cobertura. Na análise, identificamos que as chuvas ainda são mais relacionadas com os desastres 70,69% das vezes, enquanto a vulnerabilidade social não aparece
nenhuma vez. Nas denominações, “tragédia” foi a mais citada com 19 aparições das 34 nominações presentes, mas muitas das vezes, a chuva é denominada como o próprio desastre. Além disso, a quantidade de índices pluviométricos é citada 18 vezes, enquanto a menção ou citação das áreas de risco aparece 25 vezes. Embora mais frequente, ainda não há uma aparição
efetiva da explicação destas áreas ou descrição das populações atingidas (pessoas menos favorecidas economicamente). Os dados indicam que a cobertura jornalística, embora mais atenta à importância do tema das mudanças climáticas, precisa evoluir em busca de debater e denunciar outras esferas do tema de desastres. Os desastres são crescentes no Brasil e cada vez
mais estão presentes na agenda da mídia. Porém, a cobertura jornalística ainda insiste em apresentar a chuva como um “monstro” a ser combatido, uma força que, embora já seja conhecida, parece se manifestar como nunca antes (Valencio, 2017). Mesmo que as mudanças climáticas e eventos extremos sejam uma realidade, os desastres são eventos multicausais, entre
elas, causado pela situação de vulnerabilidade social de pessoas morando em áreas de risco e inoperância do poder público, com políticas públicas efetivas que as tirem de lá. Atribuir a responsabilidade somente à chuva é uma “concepção fatalista”, que conduz a sociedade ao conformismo e contribui para uma postura inerte às ameaças “naturais” (Monteiro; Zanella, 2019). Na expectativa da pesquisa contribuir para o jornalismo das redações, este trabalho, a partir da análise teórica e assimilação com a prática, apresenta orientações de como apurar e cobrir pautas que envolvem desastres.