Avaliação e modelização da dinâmica de carbono e nitrogênio em solo com o uso de dejetos de suínos
Resumo
A forma como os dejetos de suínos são manejados, se na forma líquida ou sólida (cama sobreposta), e o modo de aplicação dos mesmos no solo, se na superfície ou incorporados, devem afetar a dinâmica do C e do N no solo. Os objetivos deste trabalho foram: 1) avaliar a dinâmica do C e do N no solo e o fornecimento de N ao milho com uso de dejetos de suínos na forma líquida e sólida, em sistema plantio direto e preparo reduzido do solo; e 2) utilizar o modelo STICS (BRISSON et al., 1998) para simular a dinâmica do N e da água no sistema solo-planta com o uso de dejetos líquidos de suínos em sistema plantio direto de milho. Para atingir o primeiro objetivo, foram realizados três experimentos, sendo dois em condições de campo, no período de 2002/03 na área Experimental do Departamento de Solos da UFSM/RS, em solo Argissolo Vermelho distrófico arênico, e um em condições de laboratório. Os tratamentos consistiram da aplicação ou não de dejetos de suínos na forma líquida e sólida (cama sobreposta), sobre os resíduos culturais de aveia com e sem incorporação ao solo, na cultura do milho. Com vistas ao alcance do segundo objetivo, foi utilizado um conjunto de
dados gerados na área Experimental do Departamento de Solos da UFSM no período de 1998 a 2002 envolvendo a dinâmica do N no sistema solo-planta com o uso de dejetos líquidos de suínos em sistema plantio direto. Os resultados obtidos indicaram que as perdas de N por volatilização de NH3 foram maiores com a aplicação de dejetos líquidos de suínos do que com a aplicação de dejetos sólidos e que essas perdas diminuíram com a incorporação dos dejetos ao solo. As quantidades de N mineral na camada de 0-90 cm do solo não diferiram entre os
tratamentos com e sem incorporação dos dejetos apesar da quantidade de N perdida por
volatilização ter sido maior no tratamento sem incorporação. A incorporação dos dejetos ao
solo não aumentou a decomposição do C da palha e nem a imobilização de N. A presença da
palha de aveia estimulou a imobilização do N amoniacal aplicado com os dejetos de suínos.
Os dejetos sólidos apresentaram baixo potencial fertilizante nitrogenado ao milho, comparado
aos dejetos líquidos, em função da baixa taxa de mineralização do N orgânico presente na
cama sobreposta. A emissão de N-N2O aumentou com a aplicação dos dejetos líquidos sobre
a palha de aveia em relação ao sistema com palha e sem dejetos. A recuperação do 15N
amonical dos dejetos líquidos pelo milho no estádio de maturação fisiológica foi de apenas
14,9%. Nesse mesmo período, apenas 49,2% do 15N amoniacal aplicado com os dejetos
líquidos de suínos foram recuperados no solo e na planta (parte aérea + raízes), indicando que
mais da metade do N amoniacal aplicado com os dejetos foi perdido através dos processos de
volatilização, lixiviação e desnitrificação. O modelo STICS subestimou a quantidade de N
perdida por volatilização de amônia, após a aplicação dos dejetos de suínos. O uso de um
fator em STICS para expressar a perdas de N por volatilização de amônia proporcionou uma
melhora nas simulações da dinâmica do N no solo. A dinâmica da água na camada 0 60 cm
do solo foi simulada por STICS com um erro inferior a 13,5%. Os resultados desse estudo
evidenciaram que o modelo STICS reparametrado apresenta potencial para ser utilizado em
condições de clima subtropical na simulação da dinâmica do N e da água em sistema plantio
direto com o uso de dejetos de suínos.