Simulação da necessidade de irrigação no estado do Rio Grande do Sul para compensar perdas por deficiência hídrica de milho, soja e feijão
Resumo
A variabilidade temporal e espacial na distribuição das
precipitações pluviais é um dos maiores riscos à atividade agrícola e responsável pela oscilação no rendimento de grãos das culturas de primavera-verão no Estado do Rio Grande do Sul. Para minimizar as perdas na produção de grãos devido às deficiências hídricas, a adoção da irrigação tem sido apontada e recomendada pela pesquisa. Entretanto, para estabelecer um adequado manejo da irrigação, é necessário conhecer, além da quantidade e distribuição das precipitações pluviais, as necessidades hídricas das culturas em diferentes regiões do Estado, solos e épocas de semeadura. Assim, os objetivos desse trabalho foram: determinar a necessidade de irrigação para as culturas do milho, feijão e soja para a Depressão Central, Planalto Inferior, Planalto Médio, Missões e Baixo Vale do Uruguai; estimar a evapotranspiração de referência
(ETo), lâmina de irrigação acumulada necessária por época de
semeadura; estimar o custo de produção das culturas do milho, feijão e soja, considerando diferentes expectativas de rendimentos de grãos e preços de comercialização do produto; e, calcular a área mínima irrigada necessária para cobrir os custos de produção para os níveis de frustração
de safra de 0, 20, 40, 60 e 80%. O trabalho foi desenvolvido com base em uma série contínua de 13 anos de dados meteorológicos diários, provenientes das estações meteorológicas de Santa Maria, Cruz Alta, Passo Fundo, São Luiz Gonzaga e São Borja. Calculou-se o balanço hídrico diário e acumulado durante o ciclo de desenvolvimento das culturas. As datas de semeadura foram fixadas nos dias 01 e 15 de cada
mês, dentro do período recomendado de semeadura. A lâmina de irrigação acumulada necessária por cultura, época de semeadura e ano agrícola foi determinada através do Sistema Irriga (http://www.irriga.proj.ufsm.br). Determinou-se o custo de produção das culturas do milho, feijão e soja para áreas não irrigadas de 50, 100, 200, 400, 800 e 1600 ha, considerando-se diferentes expectativas de rendimentos de grãos e três preços de comercialização dos produtos. Para áreas irrigadas de 20, 40, 80, 160, 320 e 640 ha, determinou-se, além dos custos de produção, os custos de aplicação da lâmina e depreciação do equipamento. Sobre a receita bruta total em áreas não irrigadas foram aplicadas frustrações de safra de 0, 20, 40, 60 e 80%. A partir da relação entre a receita líquida x área irrigada, calculou-se a área mínima irrigada necessária para compensar as frustrações de safra em
áreas não irrigadas. Os resultados demonstraram que houve maior necessidade de irrigação para as três culturas na Região do Planalto Inferior. Menores lâminas de irrigação para a soja foram verificadas para a Região do Planalto Médio. A necessidade de irrigação complementar para a soja foi semelhante entre a Depressão Central e Planalto Inferior. As
lâminas de irrigação necessárias para o feijão (safra) foram de 125, 133, 93, 90 e 114 mm, respectivamente, para a Depressão Central, Planalto Inferior, Planalto Médio, Missões e Baixo Vale do Uruguai. Houve uma redução nos custos de produção unitários com o aumento na expectativa de rendimento e estimativa de área plantada. Para uma frustração de safra de 20% sobre o rendimento de grãos de 4,02 Mg ha-1 de milho, as áreas irrigadas necessárias foram de 3,74, 13,26, 32,30, 70,38, 146,53 e 298,85 ha, para áreas não irrigadas de 50, 100, 200, 400, 800 e 1600 ha, respectivamente, considerando rendimentos de grãos de 6,0 Mg ha-1 em áreas irrigadas (preço de comercialização de R$ 16,00). A redução na área irrigada necessária para compensar frustrações de safra de 0, 20, 40, 60 e 80% foi mais significativa com o aumento no preço do produto do que o aumento no rendimento de grãos e área cultivada.