Nitrogênio em videira: recuperação, acumulação e alterações na produtividade e na composição da uva
Resumo
No Rio Grande do Sul (RS), a dose de nitrogênio (N) para a videira é definida a partir do seu teor total na folha inteira ou no pecíolo, e na expectativa de produção. Quando diagnosticada a necessidade de aplicação, recomenda-se o seu parcelamento em épocas incertas. Entretanto, essa
recomendação não infere informações sobre o impacto do N aplicado na produção e na composição da uva. Também não se considera a contribuição do N dos resíduos de plantas de cobertura depositados na superfície do solo. O presente trabalho teve como objetivo estudar a recuperação e
acumulação de N em videiras e seu efeito na produtividade e na composição da uva e do mosto. Foram conduzidos três estudos: Estudo 1, realizado para estimar a recuperação, distribuição e a acumulação de N aplicado ao solo pela videira. Esse foi composto por dois experimentos: Experimento 1, implantado em um vinhedo de Cabernet Sauvignon na Embrapa Uva e Vinho, Bento Gonçalves (RS), e o experimento 2, instalado na Empresa Pernod Ricard Brasil/Almadén, Santana do Livramento (RS). Nos experimentos 1 e 2 as videiras foram submetidas à aplicação de uma dose de
N com 3% de átomos de 15N, em quatro modos de parcelamento. Na maturação da uva, as plantas foram colhidas, fracionadas, secas, determinada a matéria seca (MS) e analisado os totais de N e 15N. O Estudo 2 foi realizado para avaliar a produtividade e a composição da uva e do mosto, em videiras submetidas à aplicação de N. O Estudo 2 foi formado por dois experimentos: Experimento 1,
implantado no vinhedo do experimento 1 do Estudo 1, as videiras receberam cinco doses de N e o experimento 2, instalado no vinhedo do experimento 2 do Estudo 1, as videiras foram submetidas à aplicação de seis doses de N. Nos experimentos 1 e 2 a uva foi colhida, determinada a produção e no seu suco avaliado os sólidos solúveis totais, o pH, a acidez total, o ácido tartárico e málico, os polifenóis totais, as antocianinas e o N amoniacal. Além disso, na baga foram analisados os totais de N, P, K, Ca e Mg. O Estudo 3 foi realizado para determinar a contribuição de N derivado da
decomposição de resíduos de azevém (Lolium perenne) e trevo branco (Trifolium repens) para a videira. Esse compreendeu dois experimentos instalados em vinhedo de Chardonnay, em Bologna, Itália. No experimento 1, os resíduos de azevém perene e de trevo branco foram colocados no interior de bolsas teladas e depositados no solo. Ao longo do ciclo das videiras as bolsas teladas foram coletadas, determinada a MS remanescente e analisado os totais de 15N, N, C, P, K, Ca, Mg e S. No experimento 2, os resíduos das espécies foram colocados na superfície do solo e na maturação da uva as videiras foram colhidas, fracionadas, secas, determinado a MS e analisado os totais N e 15N.
Os resultados obtidos mostram que o N adicionado e absorvido no ano é distribuído e acumulado, preferencialmente, nas folhas, mas a maior parte do N presente na videira é derivada de outras formas, que não a do fertilizante. Entretanto, existe aumento na produção quando da aplicação de N na Serra Gaúcha, podendo a dose ser parcelada 25% no início da brotação+25% na brotação+25% na floração+25% no crescimento das bagas; 50% no início da brotação+50% na brotação e 50% na floração+50% no crescimento das bagas. A aplicação de N altera a composição
da uva, especialmente, diminui a quantidade de antocianinas no mosto. Os resíduos de azevém perene e trevo branco depositados na superfície do solo são decompostos com a mesma taxa no ciclo vegetativo e produtivo da videira, porém liberam nutrientes em taxas diferentes. No entanto, isso
tem pouca importância, pois as plantas recuperam porcentagens pequenas e iguais de N derivado dos resíduos das duas espécies.