A sucessão secundária na floresta estacional subtropical do Rio Grande do Sul, Brasil
Resumo
As florestas estacionais subtropicais localizadas na região do rebordo do Planalto Meridional
(RPM) do Rio Grande do Sul representam uma extensão da flora proveniente da província
Misiones (Argentina), essa considerada um dos ecossistemas mais ameaçados do mundo. O
RPM comporta a maior área de floresta do estado que são principalmente compostas de
florestas secundárias originadas do abandono de áreas agrícolas. Em muitos casos, as florestas
remanescentes são utilizadas como fonte de abrigo e alimento para o gado. Dado a
importância das florestas do RPM para conservação da biodiversidade e para a manutenção
dos serviços ecológicos, sabe-se pouco como essas florestas se regeneram após o impacto. A
presente tese de doutorado foi organizada em quatro capítulos, os três primeiros buscaram
descrever e avaliar a sucessão secundária nos solos e da vegetação florestal após o abandono
da atividade agrícola. Foram amostradas 35 florestas preservadas em diferentes idades (5 a
>100 anos) com inventários padronizados, e em menor variação ambiental possível, para
análises das características do solo e da vegetação. De forma específica, o estudo procurou
responder as seguintes questões: 1) como muda os atributos do solo (11 variáveis químicas e
três físicas) ao longo da sucessão florestal e quais os melhores indicadores dessa mudança; 2)
existe mudanças florísticas lineares ao longo da sucessão e qual a similaridade florística entre
idades, cronossequências, estágios sucessionais e nas fases de desenvolvimento da floresta? 3)
como mudam os atributos estruturais da vegetação (13 atributos) ao longo da sucessão e quais
os melhores indicadores dessas mudanças? Os resultados demonstraram que os atributos
químicos do solo e da estrutura da vegetação mudaram significativamente nas florestas ao
longo da sucessão, no entanto, as mudanças não foram lineares ou previsíveis, o que não
permitiu elencar um único atributo eficiente para caracterizar uma idade de floresta. Somente
com o emprego da análise discriminante foi possível identificar grupos de variáveis do solo e
da estrutura da vegetação eficientes para classificar as diferentes idades de florestas. A
composição florística também variou e algumas poucas espécies podem ser elencadas como
indicadoras de uma determinada fase de desenvolvimento. O último capítulo avaliou o efeito
do pastoreio bovino em 35 florestas com diferentes idades (5 a > 100 anos) e níveis de
impacto (florestas com impacto atual de pastoreio bovino, florestas com exclusão do pastoreio
a 10 anos e florestas sem pastoreio bovino). Foram realizados inventários padronizados em
todas essas florestas para análise do solo e vegetação com objetivo de comparar e avaliar o
efeito e a magnitude do impacto do pastoreio no ecossistema florestal. O impacto do pastoreio
foi mais significativo no solo (química e textura) do que na composição florística e estrutura
da vegetação, sendo possível elencar maior número de indicadores ambientais no primeiro
caso. No entanto, o impacto do pastoreio no solo e no componente arbóreo pode ser
recuperado em 10 anos de abandono da atividade nos ecossistemas florestais. Os resultados
apresentados fornecem importantes subsídios para programas de monitoramento de impacto,
recuperação de ecossistemas degradados e manejo de espécies silvícolas nesse que é o maior e
mais ameaçado corredor ecológico do estado do Rio Grande do Sul.