Avaliação do sistema purinérgico na pitiose experimental em coelhos tratados com imunoterápico
Resumo
A pitiose é uma doença causada pelo oomiceto Pythium insidiosum que
acomete equinos, bovinos, ovinos, felinos e seres humanos, e ocorre em regiões
tropicais, subtropicais e temperadas. Em equinos as lesões são caracterizadas por
granulomas eosinofílicos ulcerados. A maioria das drogas antifúngicas é ineficaz
contra este patógeno e a imunoterapia tem se mostrado promissora na regressão da
doença, mesmo sem a elucidação completa dos mecanismos imunes envolvidos. O
sistema purinérgico, através dos nucleotídeos de adenina (ATP e ADP) e seu
derivado nucleosídeo (adenosina), desempenha um importante papel na modulação
da resposta imune e inflamatória. Uma vez liberados pelas células, os nucleotídeos
interagem com receptores específicos e suas concentrações extracelulares são
controladas por um grupo de ecto-enzimas, entre as quais estão a E-NTPDase
(Ecto-Nucleosídeo Trifosfato Difosfoidrolase) e ADA (adenosina desaminase).
Levando-se em conta a importância da imunoterapia no tratamento da pitiose e uma
possível participação da sinalização purinérgica na resposta imune, foram avaliadas
as atividades das ecto-enzimas NTPDase e ADA em linfócitos de coelhos com
pitiose experimental. Para a indução da doença, zoósporos foram inoculados por via
subcutânea, na região lateral do tórax, de cada coelho. Os coelhos inoculados foram
avaliados semanalmente e a área nodular (cm2) desenvolvida foi determinada após
28 dias da inoculação. Os animais com pitiose experimental, confirmada por teste
imunoenzimático e pelo desenvolvimento de lesão característica, foram tratados com
imunoterápico, sendo que a relação entre as atividades enzimáticas nos linfócitos e
o tipo de resposta imune foi investigada. Os animais que não desenvolveram lesão e
os animais do grupo controle mostraram o mesmo padrão de atividade das ectoenzimas.
A atividade da E-NTPDase nos linfócitos dos coelhos com pitiose
experimental mostrou-se significativamente maior (p<0,001) em relação à hidrólise de ATP (em cerca de 100%), podendo estar relacionada à diminuição (p<0,05) da
concentração sérica de ATP (54,04%), quando comparado ao grupo controle. Após
o tratamento com o imunoterápico, a atividade da E-NTPDase apresentou valores
semelhantes aqueles observados no dia da inoculação. Por outro lado, os coelhos
com pitiose experimental apresentaram uma diminuição significativa (p<0,01) na
atividade da E-ADA (82,36%), o que levaria a um importante aumento na
concentração extracelular de adenosina (2,51 vezes) em relação ao grupo controle
(p<0,01). Após a imunoterapia, este grupo de animais apresentou um aumento
significativo na atividade da E-ADA (78,62%) (p<0,01). Através deste estudo, podese
observar que a atividade aumentada da E-NTPDase e a atividade diminuída da
E-ADA, durante a pitiose, levam à regulação da concentração do ATP e da
adenosina no meio extracelular. Em conseqüência, baixos níveis extracelulares de
ATP poderiam ativar receptores P2Y, enquanto, altos níveis de adenosina poderiam
ativar receptores A2A e/ou A2B desencadeando uma resposta TH2, responsável pelos
danos teciduais gerados na infecção. Com a imunoterapia, pode-se observar uma
inversão no comportamento das atividades enzimáticas, estimulando uma resposta
TH1 no hospedeiro. A mudança de uma resposta TH2, responsável pelas lesões que
ocorrem na pitiose, para um padrão de resposta TH1, é hipótese mais aceita para
explicar as propriedades curativas da imunoterapia. Dessa forma, sugere-se a
participação do sistema purinérgico no padrão de resposta imune que ocorre durante
a pitiose e após a imunoterapia.