O papel do íon ferro nas infecções por Pythium insidiosum
Fecha
2014-01-30Metadatos
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O oomiceto Pythium insidiosum, classificado no Reino Straminipila, é o agente etiológico da pitiose, uma doença crônica, de difícil tratamento e que pode levar à morte. Os fatores predisponentes da doença em mamíferos não são conhecidos, mas suspeita-se que a sobrecarga de ferro exerça um papel direto ou indireto no desenvolvimento da infecção. Este estudo teve por objetivos: avaliar o metabolismo do ferro em coelhos com pitiose experimental; verificar a atividade antifúngica e o mecanismo de ação in vitro do quelante de ferro deferasirox frente a isolados de P. insidiosum e comparar o tratamento e o mecanismo de ação do fármaco com a imunoterapia in vivo; verificar a atividade antifúngica da micafungina, sozinha e em combinação com deferasirox, in vitro e in vivo; desenvolver um modelo experimental de pitiose utilizando-se a mosca-das-frutas Drosophila melanogaster com sobrecarga de ferro. Os testes de susceptibilidade aos fármacos foram realizados com 17 isolados clínicos de P. insidiosum, utilizando-se o protocolo de microdiluição M38-A2 do CLSI. O mecanismo de ação in vitro do deferasirox foi avaliado através da técnica de XTT e DiBAC. Para os testes in vivo, foram utilizados cinco coelhos infectados por P. insdiosum por grupo, conforme o delineamento a seguir: infectados tratados com placebo, tratados com imunoterápico, tratados com deferasirox, tratados com imunoterápico e deferasirox, tratados com micafungina e tratados com micafungina e deferasirox. Cinco coelhos não infectados foram utilizados como controle negativo. Realizaram-se avaliações hematológicas e bioquímicas, incluindo os níveis séricos de ferro, transferrina e ferritina nos dias 0, 25, 50 e 75 pós-infecção. A quantificação do ferro depositado nos hepatócitos foi realizada após 50 dias de tratamento (dia 75). O mecanismo de ação do deferasirox in vivo foi avaliado
através da mensuração da atividade da enzima catabólica adenosina deaminase e da histologia das lesões subcutâneas. Os resultados mostram que P. insidiosum demonstrou ser pouco susceptível ao deferasirox in vitro, com concentrações inibitórias mínimas (CIMs) que variaram de 12,5 a 50 μg/ml e concentrações fungicidas mínimas entre 50 e 100 μg/ml. A micafungina não apresentou atividade antifúngica contra P. insidiosum in vitro (CIMs > 128 μg/ml) e nos coelhos com pitiose. Contudo, sinergismo foi observado em 88% dos isolados quando a micafungina foi associada ao deferasirox, e as lesões dos coelhos estavam diminuídas em relação aos demais grupos (P = 0,06). No geral, os coelhos infectados apresentaram anemia microcítica hipocrômica com depleção das reservas corporais de ferro, que foi menos acentuada nos grupos tratados com imunoterápico ou quelante de ferro. Apesar do deferasirox não ter sido capaz de conter a infecção, o mesmo teve ação tóxica sobre as hifas de P. insidiosum in vitro e teve ação imunomodulatória sobre as lesões, em um padrão similar ao observado nos coelhos tratados com imunoterapia. Contudo, o uso do deferasirox favoreceu a disseminação pulmonar da doença por mecanismos não compreendidos. Moscas D. melanogaster foram resistentes à infecção por P. insidiosum, independente da sobrecarga de ferro. Entretanto, D. melanogaster deficientes de receptores do tipo Toll foram susceptíveis à infecção, evidenciando a importância desses receptores na pitiose. Em conclusão, coelhos com pitiose apresentaram anemia por deficiência de ferro e, apesar do efeito quelante do deferasirox, a utilização do mesmo deve ser avaliada com cuidado devido à disseminação da doença em alguns animais.