Modulação gênica dos receptores de prostaglandina E2 em células miometriais e cervicais em partos induzidos com prostaglandinas: estudo in vivo e in vitro
Resumo
Os mecanismos pelo qual a parturição humana é iniciada espontaneamente e as mudanças moleculares que ocorrem durante a transição entre a gestação e o parto não são completamente elucidados. Um dos principais fatores envolvidos são as prostaglandinas, endógenas ou administradas, entre elas a PGE1 e PGE2, que estão relacionadas à atividade contrátil e ao amadurecimento cervical. Em casos de necessidade de antecipação do nascimento, as prostaglandinas, entre elas a Dinoprostona (PGE2) e o Misoprostol (análogo da PGE1), são utilizadas para indução do parto. Entretanto, a resposta à indução do parto é variável e os motivos pelos quais isto ocorre é desconhecido. Uma vez que o parto também envolve modulação do metabolismo oxidativo, que pode ser potencialmente afetado por ação de fármacos, no presente estudo analisamos a expressão dos genes dos receptores de prostaglandina E2 (EP1, EP2, EP3 e EP4) em células miometriais e cervicais, in vivo e in vitro, bem como marcadores oxidativos em células miometriais expostas in vitro a diferentes concentrações de Misoprostol. Para a realização dos dois estudos, foram obtidas biópsias teciduais em parturientes a termo; no estudo in vivo, em mulheres com parto espontâneo, responsivas e não responsivas à indução do parto com Dinoprostona e no estudo in vitro, em mulheres com partos espontâneos e não espontâneos, estes induzidos com Misoprostol. A expressão gênica foi analisada através de qtRT-PCR e no estudo in vitro, além das análises da modulação gênica, foram conduzidas análises complementares de biomarcadores oxidativos, através de ensaios espectrofotométricos e fluorimétricos. Nos resultados obtidos a partir do estudo in vivo, observou-se regulação concomitante e antagônica da expressão do mRNA de EP1 e EP3 nos tecidos cervical e miometrial em gestantes a termo com partos induzidos com Dinoprostona. O mRNA do EP1 foi superexpresso no tecido cervical de mulheres que não responderam à indução com Dinoprostona. Além disso, no miométrio, níveis significativamente mais elevados de mRNA do EP3 foram observados em mulheres tratadas com Dinoprostona, independente da sua capacidade de resposta, indicando uma possível regulação da expressão do gene EP3 a nível transcricional. A análise in vitro evidenciou que as células miometriais oriundas de mulheres com parto espontâneo apresentaram maior capacidade de resposta genômica ao Misoprostol, uma vez que uma superexpressão dos genes relacionados com a contração muscular (EP1 e EP3) foi observada. Adicionalmente, o Misoprostol foi capaz de modular diferencialmente dois importantes marcadores do metabolismo oxidativo (lipoperoxidação e carbonilação de proteínas). Porém, este efeito foi dependente da origem das células (se obtida de partos espontâneos ou não espontâneos) e da concentração do fármaco. Os resultados obtidos sugerem que, em gestantes a termo, existe modulação dos genes dos receptores de PGE2 no miométrio e colo em partos induzidos com Dinopostona ou Misoprostrol, e que os EPs possuem um papel relevante no sucesso do parto espontâneo e na resposta farmacológica aos análogos a prostaglandina E1. Adicionalmente, o metabolismo oxidativo também parece desempenhar um papel importante no processo da parturição, necessitando de estudos complementares para esclarecimento da sua real função neste processo.