Interferência do enquadramento de trabalho nas representações sobre o ensino de leitura no contexto de formação inicial docente sob o entendimento da teoria holística da atividade
Resumo
Entender como acadêmicos em formação inicial de um Curso de Letras
constroem suas representações sobre o ensino de leitura é considerado um caminho
promissor para que ocorra a autoidentificação desses futuros professores no
processo de engate para a mudança na atuação, na escala de construção de
valores, bem como no arcabouço conceitual. A partir dessa constatação,
determinou-se como objetivo-geral desta tese: investigar em que medida o
enquadramento de trabalho interfere na construção das representações sobre o
ensino de leitura em contexto de formação inicial docente sob o entendimento da
Teoria Holística da Atividade, com o intuito de sensibilizar os graduandos ao valor
reflexivo-heurístico de suas experiências para fins de capacitação profissional. Para
tanto, com o intuito de encontrar respostas para o objetivo proposto, foram
promovidos encontros quinzenais envolvendo acadêmicos do Curso de Letras de
uma Universidade Particular do Rio grande do Sul, ao longo do ano de 2009 e início
de 2010, em horários disponibilizados pelo professor titular da turma. Foram quinze
encontros, que tinham duração de aproximadamente duas horas. Neles eram
realizadas discussões de teorias destinadas ao ensino de leitura. Assim, como
filosofia de trabalho, optou-se pela Teoria Holística da Atividade (RICHTER, 2010)
que valoriza a utilização de uma teoria inserida em um enquadramento de trabalho.
As discussões fomentadas pelas teorias foram materializadas em depoimentos, os
quais eram redigidos pelos acadêmicos após cada discussão. Além de os
depoimentos, foi produzida pelos acadêmicos uma unidade de materiais didáticos,
sem intervenção, a fim de que, ao término das discussões teóricas, pudesse ser
comparada com uma nova produção didática. Estas produções didáticas foram
enquadradas como corpus de triangulação. A base organizacional para a coleta dos
dados teve respaldo na pesquisa-ação, pois é considerada uma metodologia que
promove um processo de prática reflexiva, possibilitando ao profissional da
educação dar um importante passo rumo à emancipação profissional, uma vez que
esse procedimento de autorreflexão é capaz de instigar os engajados em um ensino
produtivo a analisarem suas práticas (BURNS, 1999). Para a análise dos dados,
utilizou-se a Linguística de Corpus. Esta abordagem teórico-metodológica
possibilitou a interpretação das representações à luz de um caráter intuitivo e
probabilístico. Dessa forma, foram cedidos pela Linguística de Corpus os programas
computacionais WordSmith Tools, versão 4.0, do qual se utilizaram as ferramentas
WordList e Concord, e o Mapeador Semântico para a realização da análise
linguística quantitativa. Já a análise qualitativa, isto é, a interpretação dos dados
ficou por conta da Teoria Holística da Atividade, proposta por Richter (2004/2011). A
pesquisa levou à conclusão que os acadêmicos em formação inicial não construíram
um enquadramento de trabalho suficientemente sólido para amarrar os fatores de
mediação recursos-estratégias ao fator conceitos em relação à atividade de leitura.
A partir dessa constatação, foi possível diagnosticar que os acadêmicos possuem
um conhecimento metalinguístico sobre a leitura. Embora os acadêmicos não
tenham construído um enquadramento de trabalho plenamente sólido, foram
notáveis e significativas as melhorias que ocorreram nas produções didáticas desses
sujeitos após a intervenção das teorias de enquadramento sobre leitura. À guisa de
conclusão, afirma-se que as pesquisas relacionadas à temática das representações
docentes em contexto de formação inicial auxiliam na transformação do pensar-agir
dos acadêmicos, sensibilizando-os, sem dúvida alguma, no valor reflexivo-heurístico
de suas experiências para fins de capacitação profissional.