Horacio Quiroga e Buenos Aires: o diálogo com a metrópole pelas páginas das novelas de folhetim
Abstract
A inserção de um escritor consagrado como o contista uruguaio Horacio
Quiroga no gênero folhetinesco, através de seis novelas de folhetim publicadas nas
revistas ilustradas Caras y Caretas e Fray Mocho entre os anos de 1908 e 1913 nos
mostra a disposição do escritor em se adaptar, no trabalho com um gênero com o
qual não possuía nenhuma afinidade anteriormente, a um panorama moderno no
qual a própria concepção de obra literária começava a passar por questionamentos
e transformações. Porém a complexidade das seis novelas folhetinescas vai muito
além de sua estética e de sua matriz narrativa particular, levantando questões que
dizem respeito a problemáticas sociais e ideológicas encontradas nas primeiras
décadas de uma Buenos Aires em transformação. Produtos da indústria cultural,
estas novelas não podem ser compreendidas como meras imitações empobrecidas
da literatura da tradição, porém tampouco representavam a expressão de uma
cultura popular que resistia e se opunha à cultura dominante. São mais bem vistas
como pertencentes a um território de contestação, a um campo de embates
culturais. O reconhecimento destas novelas, de sua circulação e de seu consumo, é
o que não nos permite negar a existência de um imenso público leitor que não
correspondia às expectativas da elite letrada. Aqui justamente reside seu valor: são
testemunhas do apocalipse que ocorre quando a literatura deixa de ser um reino
reservado para os espíritos superiores que a compreendam e começa a sofrer uma
irrevogável aproximação com o público.