Contribuições ao tratamento de doenças desmielinizantes: estudo experimental em ratos e retrospectivo em cães
Resumo
As doenças desmielinizantes são uma grave consequência da destruição das bainhas de mielina
presentes no sistema nervoso central (SNC) e periférico (SNP). A desmielinização pode ocorrer tanto em
doenças infecciosas como compressivas da medula espinhal em cães. O modelo experimental de
desmielinização e remielinização pelo brometo de etídio (BE) promove a diminuição da atividade
locomotora semelhantes às observadas na doença de esclerose múltipla (EM). O objetivo deste estudo
foi investigar o efeito do flavonoide quercetina nos testes comportamentais, na neurotransmissão
colinérgica, na atividade das colinesterases no sangue, na atividade da acetilcolinesterase em linfócitos e
nos parâmetros de estresse oxidativo no sangue, durante os eventos de desmielinização e
remielinização em ratos submetidos ao modelo experimental pelo BE e realizar levantamento de dados
sobre cães com diagnóstico de subluxação atlantoaxial atendidos no hospital veterinário universitário. No
primeiro artigo, foram diagnosticados 14 cães com subluxação atlantoaxial, sendo as raças de pequeno
porte com idade inferior a 24 meses as mais acometidas. A principal causa da instabilidade foi a
agenesia do processo odontóide do áxis e os sinais clínicos variaram desde hiperestesia cervical até
tetraparesia não ambulatória. O tratamento cirúrgico demonstrou ser eficaz com tempo de recuperação
predominante de 30-60 dias após a cirurgia, não existindo relação deste com a duração dos sinais
clínicos. Para o estudo experimental, ratos Wistar foram distribuídos aleatoriamente em quatro grupos
(20 animais por grupo): Controle (injeção de solução salina e tratamento com etanol), Querc (injeção de
solução salina e tratamento com quercetina), BE (injeção de BE a 0,1% e tratamento com etanol), e BE +
Querc (injeção de BE a 0,1% e tratamento com quercetina). Os animais dos grupos Querc e Querc + BE
foram tratados uma vez ao dia com quercetina (50mg/kg) diluída em solução de etanol a 25% na dose de
1 ml/kg. Os animais dos grupos controle e BE foram tratados uma vez ao dia com solução de etanol a
25% na dose de 1 ml/kg. As fases avaliadas foram no pico de desmielinização (dia 7) e no pico de
remielinização (dia 21), pós-inoculação de BE. No primeiro manuscrito, os testes comportamentais (teste
do beam walking, teste do foot fault e teste do plano inclinado), a atividade da AChE e peroxidação
lipídica nas estruturas encefálicas (hipotálamo, hipocampo, cerebelo, córtex, estriado e ponte) foram
avaliadas nos dias 7 e 21 pós-inoculação de BE. O tratamento com quercetina promoveu maior
velocidade de recuperação locomotora, preveniu a inibição da atividade de AChE e o aumento da
peroxidação lipídica em ratos submetidos à desmielinização pelo BE. No segundo manuscrito, os
parâmetros de estresse oxidativo no sangue, a atividade das colinesterases no sangue e a atividade da
AChE nos linfócitos foram avaliados nos dias 7 e 21 pós-inoculação de BE. O modelo de desmielinização
experimental por BE promoveu alteração na atividade da AChE no sangue total e linfócitos, e modificou
os parâmetros das enzimas antioxidantes, bem como reduziu a peroxidação lipídica em ratos submetidos
à desmielinização pelo BE. Estes resultados podem contribuir para uma melhor compreensão do papel
neuroprotetor da quercetina, enfatizando a importância deste antioxidante na dieta humana e animal, e
do potencial terapêutico deste composto em doenças desmielinizantes tais como a esclerose múltipla, a
cinomose, bem como doenças traumáticas (subluxação atlantoaxial e DDIV, entre outras).