Interações entre o estresse repetido e clomipramina: diferentes respostas em ratos machos e fêmeas
Resumo
O estresse pode ser definido como uma variedade de estímulos fisiológicos e psicológicos que podem
ter efeitos diretos ou indiretos sobre a função corporal. Neste contexto o estresse repetido ou situações
estressantes podem induzir ansiedade e depressão. Diferentes respostas quanto ao estresse repetido e
tratamento antidepressivo são observadas em machos e fêmeas. A clomipramina é um antidepressivo
tricíclico que inibe a recaptação de serotonina e norepinefrina com ações indiretas sobre o sistema
dopaminérgico e eixo límbico-hipotálamo-hipófise-adrenal (LHHA). Seu uso crônico aumenta a
habilidade do corpo em combater o estresse, contudo doses elevadas podem potencializar os efeitos
colaterais sobre memória, aprendizado e função sensório-motora. Desta forma, este estudo investigou
as diferenças sexuais quanto ao estresse repetido por contenção e tratamento crônico com
clomipramina sobre parâmetros de estresse oxidativo em córtex cerebral, estriado e hipocampo
(Artigo 1 e Manuscrito 1) e comportamento de ratos (Artigo 2 e Manuscrito 1). Machos e fêmeas
foram divididos em controle e estresse e subdivididos em tratados ou não com clomipramina durante
40 dias de estresse e 27 dias consecutivos de tratamento com clomipramina (30mg/kg). O modelo de
estresse repetido por contenção utilizado neste estudo aumentou o dano oxidativo particularmente em
estriado e hipocampo de fêmeas determinando maior sensibilidade ao estresse em comparação aos
machos (Manuscrito 1). Neste contexto os níveis antioxidantes não-enzimáticos como tióis nãoprotéicos
(NP-SH), enzimáticos tais como a enzima superóxido dismutase (SOD) e catalase (CAT) e
Na+/ K+-ATPase (Manuscrito 1) também sofreram alterações em ambos os sexos. O tratamento
antidepressivo com clomipramina potencializou o dano oxidativo causado pelo desequilíbrio entre
oxidantes/antioxidantes, particularmente em machos. Em relação às atividades comportamentais
(Manuscrito 1) fêmeas submetidas à estresse repetido por contenção apresentaram maior ansiedade e
menor motivação quando comparado aos machos. Por outro lado, machos apresentaram prejuízo na
formação de memória não espacial através das variáveis de memória em curto e longo prazo assim
como uma redução na atividade locomotora e exploratória em relação ás fêmeas. Diferenças sexuais
foram verificadas também quanto ao tratamento antidepressivo o qual potencializou os déficits sobre a
formação da memória não espacial e atividade locomotora e exploratória assim como motivação em
machos, mas em contrapartida foi observado um aumento da ansiedade e uma redução quanto ao
consumo de alimento doce em fêmeas. Por fim, os resultados deste estudo indicam que fêmeas são
sensíveis ao estresse particularmente sobre ansiedade e motivação enquanto machos são sensíveis à
formação de memória não espacial assim como atividade locomotora e exploratória. O tratamento
antidepressivo com clomipramina na dose utilizada parece ter efeito neuroprotetor em fêmeas, mas
citotóxico em machos o que pôde ser observado pelo aumento nos déficits neuroquímicos e
comportamentais.