Disseleneto de p-metoxi fenila atenua o prejuízo cognitivo e a injúria cerebral em um modelo da doença de Alzheimer em roedores
Resumo
A doença de Alzheimer (DA) é uma síndrome neurodegenerativa progressiva caracterizada principalmente por uma perda da memória e da capacidade intelectual. Ela é caracterizada pelo depósito de fragmentos β-amilóides; emaranhados neurofibrilares; neuroinflamação; déficit do metabolismo energético; estresse oxidativo e deficiência da neurotransmissão. As múltiplas vias patológicas da DA dificultam sua prevenção e tratamento. Logo, o desenvolvimento de novas terapias para a DA é um desafio. Por esta razão, este trabalho procurou apontar uma nova molécula orgânica contendo selênio, o disseleneto de p-metoxi fenila [(MeOPhSe)2], como uma alternativa promissora para o tratamento e prevenção da demência decorrente da DA (DEDA), usando um modelo experimental de demência induzida pela injeção intracerebroventricular (i.c.v.) de estreptozotocina (ETZ) em roedores. Inicialmente, avaliou-se o efeito profilático do (MeOPhSe)2. Para tal, camundongos receberam uma dose oral do organoselênio (25mg/kg, gavage) 30 minutos antes da ETZ (2μl de uma solução 2,5mg/ml), esse procedimento foi repetido 48horas depois. Os testes da esquiva passiva, do labirinto em Y e aquático de Morris, que sucederam esse tratamento, revelaram que o (MeOPhSe)2 protegeu os camundongos do prejuízo cognitivo induzido pela ETZ. O (MeOPhSe)2 protegeu o tecido cerebral do aumento das espécies reativas (ER) e da diminuição dos níveis de glutationa (GSH) induzidos pela ETZ, assim como modulou a atividade de enzimas antioxidantes. O (MeOPhSe)2 inibiu a atividade da acetilcolinesterase (AChE), a qual foi estimulada pela ETZ. Posteriormente, investigou-se a efetividade do (MeOPhSe)2 em reverter o prejuízo cognitivo e os danos neuronais induzidos pela ETZ. Para isso, a ETZ foi injetada nos ratos (1μg/8μl, 4μl/ventrículo) em 0 e 48horas. Passados 21dias, iniciou-se uma suplementação dietética com 10ppm de (MeOPhSe)2 durante 30dias. Ao final deste período, observou-se que o (MeOPhSe)2 restaurou as habilidades cognitivas prejudicadas pela ETZ nos ratos, nos testes do labirinto aquático de Morris, esquiva passiva e reconhecimento do objeto. Os resultados referentes aos testes do reconhecimento do objeto e da esquiva passiva apontaram que o (MeOPhSe)2 melhorou per se a memória dos ratos. A ETZ aumentou os níveis de ER e de nitração de proteínas no córtex e diminuiu os níveis de GSH no hipocampo dos ratos, o (MeOPhSe)2 reverteu estas alterações. O organoselênio inibiu a atividade da AChE (aumentada pela ETZ) tanto no córtex como no hipocampo dos ratos, mas não modulou o metabolismo da glicose (ETZ diminuiu ATP-turnover). O (MeOPhSe)2 evitou a perda neuronal (apoptose) e inibiu os eventos neurodegenerativos (ativação da caspase-3) induzidos pela ETZ. O (MeOPhSe)2 suprimiu a neuroinflamação induzida pela ETZ no hipocampo dos ratos. O organoselênio inibiu a ativação das células gliais e astrócitárias. Baseado nestes resultados, conclui-se que: 1) O (MeOPhSe)2 protegeu e reverteu o declínio das habilidades cognitivas; 2) Os mecanismos envolvidos no efeito neuroprotetor do (MeOPhSe)2 são: antioxidante; inibidor da AChE; supressor da neuroinflamação; 3) O (MeOPhSe)2 não altera o metabolismo energético; e 4) O (MeOPhSe)2 reduziu a morte neuronal. Assim sendo, este trabalho demonstrou que o (MeOPhSe)2 é uma alternativa promissora para o estudo de drogas para o tratamento de desordens cognitivas como a DEDA.