Dinamismo do comportamento resiliente: uma reflexão sobre a expatriação de brasileiros na China
Resumo
Este estudo tem como objetivo analisar o comportamento resiliente de brasileiros expatriados na
China, diante da experiência de expatriação. Como método de pesquisa adotou-se uma abordagem
qualitativa, de caráter exploratório e descritivo. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas com
doze expatriados brasileiros na China, as quais foram analisadas sob a luz da técnica de análise de
conteúdo (BARDIN, 2011). As categorias de análise definidas a priori foram: a experiência de
expatriação, situações de adversidade, dinâmica do comportamento resiliente e, fatores e resultados
resilientes. Estas categorias foram definidas com base no enfoque teórico de Hofstede (1991),
Grotberg (2005) e Minello (2010). Também foram definidas duas categorias de análise não a priori -
emoções e sentimentos relacionados à família e percepção da cultura chinesa relacionada aos
negócios-, que emergiram a partir do relato dos entrevistados. Como resultados, destaca-se que a
experiência de expatriação está repleta de situações de adversidades cotidianas, especialmente
relacionadas às diferenças culturais entre brasileiros e chineses, tais como os diferentes hábitos de
higiene e alimentação, cheiros, gestos, idioma chinês, e comunicação no sentido de compreender a
forma de pensar dos chineses. Nesse sentido, a primeira reação dos expatriados era a negação,
manifestada por raiva, irritação, insegurança e ojeriza; isso se deve pelo fato de que tais situações não
faziam parte do modelo mental dos expatriados brasileiros entrevistados, o que ocasionou em choque
cultural. No entanto, uma das adversidades que mais foi evidenciada entre os entrevistados, estava
relacionada à distância geográfica, que gerou o sentimento de sofrimento por causa da saudade dos
familiares e das pessoas que tinham convivência no Brasil, e o sentimento de isolamento pela
dificuldade de fazer novos grupos sociais, em um primeiro momento da experiência. No ambiente
profissional, o fuso horário foi um elemento que contribuiu para o estresse dos expatriados, devido à
longa jornada de trabalho que tinham que fazer para participar das atividades da empresa tanto no
horário do Brasil quanto da China. Diante disso, foi possível perceber oscilação entre momentos de
estabilidade emocional e momentos de angústia e isolamento, o que pode ser relacionado ao
dinamismo do comportamento resiliente dos expatriados, ora positivo, ora negativo. Salienta-se, como
fatores resilientes, a busca pelo apoio social nos colegas de trabalho, na internet, por meio de cursos e,
pela formação de grupos de brasileiros ou de estrangeiros, a busca por aprender mais sobre a cultura
chinesa, o idioma chinês e inglês. Para os expatriados casados, a família nuclear (cônjuge e filhos)
ficou mais unida, representando um forte suporte emocional para enfrentar as dificuldades da
expatriação juntos. Outro resultado dessa experiência, em decorrência do comportamento resiliente
positivo, foi a abertura de consciência para compreensão da cultura chinesa, em que repercutiu em
amadurecimento, paciência, desenvolvimento pessoal, além do crescimento e valorização profissional.