Museu, exposições e curadorias: a geopolítica da Fundação Iberê Camargo
Abstract
Esta dissertação discute o campo artístico contemporâneo, analisando, no contexto pós-moderno e
do capitalismo tardio (Fredric Jameson, Jürgen Habermas, Manuel Castells, Zygmunt Bauman), a
constituição de uma geopolítica no projeto curatorial da Fundação Iberê Camargo (FIC). O foco sobre
as exposições curatoriais se dá pelo estabelecimento de uma representativa operação da instituição
no campo artístico do Rio Grande do Sul, propondo uma reflexão sobre a rede formada por museus,
acervos, curadores e outros agentes nos modos de mediação da arte nos processos de globalização
cultural. Com o referencial teórico situado no campo da arte (Pierre Bourdieu) e na sociologia da
mediação (Nathalie Heinich), parte-se da ideia de que a curadoria, na condição de agente de um
campo relacional e hierárquico de posições estruturadas, estabelece uma mediação artística que dá
conta do que há entre obra e recepção. Já com as teorias do pós-colonialismo (Renato Ortiz, Néstor
Canclini, Gerardo Mosquera) e do fim da história da arte (Hans Belting), examina-se o projeto
curatorial da FIC em virtude das relações e posicionamentos institucionais entre centro e periferia
nos processos desiguais da globalização. Para o estudo de caso, delimitaram-se as exposições
realizadas a partir de 2008, com a inauguração da sede da FIC, até 2012. Inicialmente, percorre-se o
processo decorrido a partir de 1995, de forma situar a institucionalização no contexto da
capitalização da cultura e da revisão do estatuto dos museus. A metodologia se baseia em estudo
exploratório e descritivo, com uso de fontes textuais diversas, entre livros, catálogos, artigos e
trabalhos acadêmicos, e de pesquisa de campo, com entrevistas e levantamento de dados junto a
fontes primárias. As observações e análises buscam examinar as exposições curatoriais como
dispositivos que operam na constituição de uma geopolítica institucional determinada por tensões e
desigualdades de poder. Entre os resultados, concluiu-se que, embora a FIC proponha e tenha gestão
de seus próprios projetos expositivos, estes são determinados pela oferta que se disponibiliza
conforme os posicionamentos e as relações simbólicas dos agentes, além das próprias regras que
regem o funcionamento do campo artístico. Ademais, esta pesquisa lança questões sobre as
complexas relações entre instituições, artistas, público, mercado, curadoria, crítica e historiografia.