Dinâmica populacional de Trachemys dorbigni, (Testudines: Emydidae) em ambiente antrópico em Pelotas, RS
Resumo
Informações a respeito da dinâmica populacional de Trachemys dorbigni foram coletadas entre os meses de fevereiro de 2006 e janeiro de 2007, no arroio Santa Bárbara, Pelotas, Brasil. Foram coletados 377 indivíduos, 160 fêmeas, 146 machos e 71 juvenis. A razão sexual não foi diferente de 1:1. A maturidade sexual dos machos foi alcançada a partir de 127 mm de comprimento. A menor fêmea reprodutiva apresentou 176 mm de comprimento. As fêmeas foram
mais pesadas e maiores que os machos em todas as medidas morfométricas, exceto para o CPD. A CPUE das fêmeas e dos juvenis foi maior nos meses de fevereiro e março e dos machos nos meses de fevereiro e abril. O Software RELEASE não indicou violações significantes nas premissas de igual captura e sobrevivência e o tamanho populacional estimado por Jolly-Seber foi de 3145 adultos e 544 juvenis. A sobrevivência foi constante para os adultos (97%) e para os
juvenis (94%) entre as ocasiões semanais de amostragem. Já a probabilidade semanal de captura variou de 0,3% a 13% para os adultos e foi constante para os juvenis (4%). Foram encontrados 122 ninhos, com a menor média de ovos já registrada (8,2). Os ovos, por sua vez, tiveram a
menor média de tamanho já reportada para a espécie, 37,3 x 20,2 mm. A largura dos ovos esteve relacionada positivamente com o seu comprimento. Porém, o número de ovos de cada postura não teve relação com as suas dimensões. O comprimento e a largura dos ovos também não
dependeram do tamanho das fêmeas. No entanto, o número de ovos esteve relacionado ao comprimento das fêmeas. Foram observadas desovas entre 22 de outubro e quatro de janeiro. Somente 35,3% das fêmeas se reproduziram e 11,9% depositaram dois ninhos na mesma temporada reprodutiva. A espécie desovou preferencialmente em solos com mais de 88% de areia e os comportamentos de desovas ocorreram com maior freqüência na parte da manhã. Foi encontrada maior abundância de ninhos em locais entre 25 m e 50 m de distância da água e em áreas mais planas, entre 0º e 10° de declividade. A temperatura de incubação variou de 16,1°C a
35,5°C. Predação foi registrada em 18,1% dos ninhos. Os ninhos foram depositados de forma agregada, onde os mais próximos do arroio, entre 20 m e 30 m, tiveram maior taxa de predação (52,4%). A alta sobrevivência registrada para a espécie pode estar associada ao período amostral
relativamente curto. Além da exposição aos resíduos humanos, as tartarugas do arroio Santa Bárbara estão sujeitas à atropelamentos e ao comércio ilegal de animais silvestres. Assim, é necessário que a flutuação anual dos parâmetros populacionais seja avaliada para demonstrar se a
população está sendo impactada por estes efeitos. Devido à longevidade dos quelônios, alguns impactos podem ser notados somente em longo prazo.