Impacto de agrotóxicos usados na lavoura de arroz irrigado em organismos bentônicos
Resumo
O objetivo deste estudo foi investigar o impacto da utilização de diferentes
agroquímicos, empregados na lavoura de arroz irrigada por inundação, sobre a
densidade e riqueza de organismos bentônicos. No experimento, foram realizadas
duas amostragens de solo para identificar e quantificar organismos bentônicos,
uma no 28º e outra no 84º dia após a entrada de água na lavoura. Utilizou-se um
coletor cilíndrico de PVC (Corer) com 0,10 m de diâmetro (0,01 m2) na
profundidade de 0,10 m. As amostragens foram realizadas em parcelas que
receberam os seguintes tratamentos: TO -imazethapyr + imazapic (ONLY®); TB -
bispyribac-sodium (NOMINEE 400SC); TQ - quinclorac (FACET PM); TF - fipronil
(STANDACK) e TC - controle. O número de réplicas para cada tratamento foi de 12
amostras por dia amostral. O material coletado foi armazenado em sacos plásticos
e levado para o laboratório, onde foi lavado em peneiras de 0,25mm, reacondicionado
em frascos plásticos e logo em seguida corado (Rosa-de-Bengala) e
fixado com álcool etílico absoluto. Após a fixação os organismos foram triados e
identificados até o menor nível taxonômico possível, utilizando-se bibliografias
especializadas. Durante todo o período da cultura do arroz foram registrados os
dados dos seguintes parâmetros da água de irrigação: Oxigênio dissolvido, pH,
temperatura, alcalinidade, dureza, turbidez, condutividade e persistência dos
pesticidas utilizados. Para verificar diferenças quanto aos fatores físico-químicos,
entre os tratamentos, utilizou-se uma ANOVA de dois critérios (tratamento e tempo)
e uma PCA. Uma ANOVA de um critério foi utilizada para verificar diferenças dos
táxons entre os tratamentos e uma MANOVA foi empregada para analisar
diferenças na composição da fauna entre os tratamentos e guildas tróficas. Não se
observou diferenças nos dados abióticos em relação aos tratamentos, mas sim em
relação ao tempo de cultivo. Com relação à persistência dos pesticidas, o herbicida
Quinclorac foi o mais persistente, detectado até o 84º dia. A menor persistência foi
do herbicida Only, detectado até o 21º dia. Na primeira amostragem foram
coletados um total de 1971 organismos entre todos os tratamentos, pertencentes a
quatro filos: Arthropoda (Insecta, Arachnida e Crustacea), Mollusca (Gastropoda),
Anellida (Hirudinea e Oligochaeta) e Nematoda. Na segunda coleta foram
identificados 2295 organismos entre todos os tratamentos. Os mesmos filos
estiveram presentes, porém a riqueza de insetos foi maior que na coleta anterior. A
Manova mostrou haver diferenças entre as composições da fauna dos tratamentos
avaliados, e entre as coletas, bem como na composição da fauna, de uma mesma
guilda trófica, nos diferentes tratamentos. Com base nestes resultados é possível
concluir que os pesticidas utilizados não afetaram os parâmetros físico-químicos da
água, entretanto, esses produtos podem causar estresse na comunidade bentônica
no início da cultura, por um período de aproximadamente um mês após a entrada
de água nas parcelas. Este efeito é reduzido com o passar do tempo, de maneira
que a comunidade bentônica tende a se reestruturar após o período de maior ação
dos pesticidas na água.