A pomba-de-bando (Zenaida auriculata - aves, Columbidae) nas paisagens agrícolas do sudoeste do Brasil: distribuição, abundância e interações com a agricultura
Resumo
A expansão da agricultura e a intensificação dos processos agrícolas levam a um rearranjo nas
comunidades de aves, incluindo a perda de diversidade e o aumento populacional de espécies
capazes de aproveitar os novos recursos disponíveis. Em algumas circunstâncias espécies
podem apresentar um marcado aumento populacional passando a ser percebidas como
superabundantes e conflitantes para atividades humanas. Esta dissertação analisa 1) a
influência do uso do solo na abundância da pomba-de-bando e 2) a aplicação de conceitos de
superabundância para esta espécie no Sudoeste do Brasil. A área de estudo abrangeu regiões
produtoras de grãos dos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo.
Contamos aves em 50 rotas, cada uma com 12 estações de contagem, alocadas em estradas
vicinais em meio a matrizes agrícolas e relacionamos ocorrência e abundância com a
paisagem. Aplicamos questionários aos agricultores com a intenção de obter dados da
percepção dos mesmos frente a danos causados pela pomba na agricultura. A pomba-de-bando
foi a espécie mais abundante, representando 48% do total de indivíduos contados, e também
uma das mais frequentes, sendo encontrada em 93% das amostras. Na escala da paisagem,
mais ampla, a abundância esteve positivamente associada às áreas destinadas à agricultura e
agropecuária no inverno e negativamente associada às áreas com grandes extensões de
agropecuária e remanescente florestais no verão. Na escala local, mais fina, a abundância de
pombas no inverno foi maior em rotas de contagem em que houve maior frequência de
plantações de milho. Já no verão a abundância foi positivamente relacionada com a maior
frequência de plantações de cana-de-açúcar e soja. Assim, o tipo de uso do solo na paisagem
agrícola influenciou a abundância de pombas nas duas escalas. Dos respondentes aos
questionários, 41% alegaram dano às suas plantações, sendo que 70% relataram danos
inferiores a 10% da área plantada. O maior percentual de respostas positivas se deu no Paraná,
com 54% de reclamações. Sessenta e sete por cento responderam sim a ocorrência de danos
quando o local de aplicação do questionário estava a menos de 100 km de uma colônia de
pombas. A probabilidade de reclamações decaiu 1% a cada 10 km de afastamento da colônia
mais próxima. Consideramos que a pomba-de-bando pode ser classificada como
superabundante somente em partes do Paraná e de São Paulo, onde a paisagem agrícola
favorece uma alta abundância de pombas durante todo o ano e o risco de conflitos com a
agricultura é maior.