Alterações metabólicas em pacientes infectados pelo HIV e HCV
Resumo
Em 5 de junho de 1981, o CDC (Centers for Disease Control) publicou o primeiro
relato do que mais tarde seria conhecido como Síndrome da Imunodeficiência
Adquirida (AIDS). Passados mais de 30 anos, a doença universalmente fatal foi
conduzida ao patamar de doença crônica, mas apesar dos inúmeros avanços, os
portadores de HIV vêm apresentando risco aumentado de eventos não definidores de
AIDS e restauração imune incompleta, a despeito do controle virológico eficaz, estas
incluem alterações morfológicas, alterações metabólicas e ateroscleróticas. Neste
contexto, a coinfecção com o vírus da Hepatite C (HCV) tem despertado bastante
interesse devido aos insultos mitocondriais cumulativos e sinérgicos causados pela
coinfecção e potencializado pelo uso de antirretrovirais. O objetivo deste estudo foi
determinar a prevalência de dislipidemia e síndrome metabólica em pacientes com
infecção pelos vírus do HIV e HCV, em mono ou coinfecção por cada um dos vírus.
Trata-se de um estudo transversal onde foram incluídos 127 pacientes, com idades entre
21 e 72 anos, 59 com HIV, 36 coinfectados e 32 com HCV, o sexo masculino
representou 48% (62) e o feminino 52% (67). Houve predomínio de homens entre os
pacientes coinfectados (64% - 23 homens e 13 mulheres) e mulheres no grupo HIV
(66% - 22 homens e 37 mulheres). A média de idade foi 40,6 anos (HIV 38,5,
coinfectados 39,6 e HCV 45,9 anos). A raça branca ocorreu em 60% da amostra com
predomínio em todos os grupos. Não houve diferença entre os grupos no tempo médio
de diagnóstico do HIV e HCV. Para o grupo com HIV houve 27% de síndrome
metabólica pelos critérios do IDF e 26% pelo HOMA2-IR (ponto de corte 1,4), 63% de
alteração de cintura pelos critérios do IDF, com 26% de obesidade abdominal. Para o
grupo de coinfecção HIV/HCV houve 30% de síndrome metabólica pelo IDF, mas 54%
pelo HOMA2-IR, com 42% de alteração de cintura, mas 52% de obesidade abdominal.
Para o grupo HCV houve 25% de síndrome metabólica pelo IDF, mas 38% pelo
HOMA2-IR, com 67% de alteração da cintura e 47% de obesidade abdominal. Foi
possível demonstrar que a presença de coinfecção por hepatite C é responsável pela
presença de níveis alarmantes de resistência insulínica, associada a um perfil lipídico
mais favorável que poderá agir como confundidor no diagnóstico clínico da síndrome
metabólica.