Crespa ou alisada: os diferentes significados da manipulação do cabelo afro entre mulheres negras da cidade de Santa Maria – RS
Abstract
O presente estudo aborda o cabelo da mulher negra na cidade de Santa Maria/RS como um sinal diacrítico de negritude. Trata-se de um estudo etnográfico realizado em dois ambientes: o salão da Angelita e o Museu Treze de Maio. No primeiro prevalecem os cabelos alisados e nosegundo os crespos. O trabalho tem como objetivo central analisar os diferentes significados atribuídos às distintas maneiras de manipulação do cabelo afro: alisamento, relaxamento, permanente afro, mega hair, tranças nagô e os crespos naturais. Por meio desta pesquisa percebeu-se que tal escolha está ligada às múltiplas identidades e ambientes de sociabilidade vivenciados por essas mulheres: o Museu Treze de Maio, o Carnaval, as baladas , e as festas solenes. No primeiro caso foi verificado que as mulheres passam por um ritual de africanização e, sobretudo, no último caso em grande parte há uma atenuação da negritude. São também levadas representações associadas a essa escolha, como por exemplo, a boa aparência para o trabalho e os relacionamentos amorosos. Também se verificou que a geração é uma variável importante para entender a escolha por determinada manipulação capilar, pois as mulheres mais velhas passam por um enfrentamento maior para utilizar o seu cabelo natural e, em contrapartida, para as mais novas há uma maior facilidade em assumi-lo. O fato das mulheres mais novas estarem mais abertas a assumirem seus crespos naturais deve-se ao fato de vivenciarem um momento de valorização da negritude. Tal processo pode ser entendido pela atuação dos movimentos ativistas negros, pelo processo de reafricanização e exaltação das raízes africanas, pelas políticas de ações afirmativas, dentre outros elementos.