O uso de estratégias de reparo nos constituintes coda e onset complexo por crianças com aquisição fonológica normal e desviante
Resumo
Descrever e analisar o uso das estratégias de reparo nos constituintes coda e onset complexo, empregados por crianças com aquisição fonológica normal e desviante, a fim de verificar as semelhanças e as diferenças existentes entre os grupos estudados. Além disso, em relação especificamente ao constituinte coda, pretendeu-se, através da Fonologia Gerativa Não-Linear, verificar se a aplicação dos
recursos empregados fornece indícios de conhecimento fonológico. Método: Foram utilizados dados de fala de 60 crianças com aquisição normal, 30 do sexo feminino e
30 do sexo masculino, e 84 crianças com aquisição desviante, 31 do sexo feminino e 53 do sexo masculino. A idade do grupo normal variou de 1:0 a 4:0, enquanto que a do grupo desviante variou de 3:0 a 11:0 anos. Para a análise das estratégias empregadas na posição de onset complexo foram consideradas as variáveis: idade, sexo, contexto precedente e seguinte, obstruinte do onset complexo, tipo de líquida
do onset complexo, tonicidade, número de sílabas e posição na palavra. Para os recursos utilizados em coda foram consideradas: idade, sexo, contexto precedente e
seguinte, tipo de fonema em coda, tonicidade, número de sílabas e posição na palavra. Posteriormente, os dados foram submetidos à análise estatística através do programa VARBRUL. Resultados: A análise do onset complexo revelou que as estratégias que as crianças lançaram mão, considerando o desenvolvimento 12 fonológico normal e desviante, foram, respectivamente: simplificação para C1V (93%; 77%), alteração do traço da obstruinte (5%; 17%), alteração do traço da líquida (1%; 5%), epêntese (1%; 0%) e metátese (0%, 1%). No constituinte coda, as crianças
com desenvolvimento normal e desviante utilizaram os seguintes recursos, respectivamente: omissão do fonema alvo (71%; 71%), omissão do fonema alvo com mudança da qualidade da vogal precedente (1%; 4%), omissão da sílaba alvo (6%; 1%), semivocalização (11%; 14%), substituição por líquida (1%; 3%), palatalização (2%; 3%), metátese (1%; 2%), epêntese (1%; 1%), alongamento compensatório (5%;
0%) e outras realizações (1%; 1%). Para as estratégias empregadas em onset complexo as variáveis tonicidade, contexto precedente e posição na palavra não foram relevantes no estudo, enquanto que, para os recursos aplicados em coda, todas as variáveis foram relevantes. Conclusão: O estudo das estratégias de reparo em ambos os constituintes revelou mais similaridades que diferenças quanto ao tipo de estratégias de reparo que as crianças com desenvolvimento fonológico normal e desviante lançam mão ao longo do percurso de aquisição. No constituinte onset
complexo há menos diversidade entre os recursos, predominando o uso de simplificação para C1V para ambos os grupos estudados. Já na posição silábica de coda, constata-se uma maior variedade de estratégias, sendo o recurso de omissão do fonema alvo o preferido pelas crianças com aquisição fonológica normal e desviante. Além disso, as outras estratégias aplicadas na posição de coda se mostraram importantes pelo que evidenciaram em termos de conhecimento fonológico.