A educação para o trabalho na perspectiva dos agentes comunitários de saúde
Resumo
Trata-se de uma pesquisa qualitativa, exploratório-descritiva que tem como objetivo
compreender o processo de educação no trabalho na perspectiva do Agente Comunitário de
Saúde (ACS). Os sujeitos do estudo atuavam em equipes de Estratégia Saúde da Família
(ESF) e Equipes de Agentes Comunitários de Saúde (EACS), com a participação de 25
sujeitos. Foram selecionados dois instrumentos de coleta de dados: questionário estruturado
auto-aplicável de levantamento de dados sócio-demográficos e roteiro de entrevistas com
questões norteadoras para a técnica do grupo focal. Para tanto, no tratamento dos dados
sócio-demográficos foi utilizada a estatística descritiva e para os dados qualitativos
coletados por meio dos grupos focais foi feita a análise de conteúdo conforme Bardin. Este
estudo atendeu à Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Quanto aos
resultados a maioria é do sexo feminino, com idade média de 38 anos, ensino médio
completo e tempo de serviço entre 06 e 10 anos. A maioria teve como motivo de ingressar
na ocupação de ACS a estabilidade profissional e exerciam, na sua maioria, atividades em
comércio e vendas antes de atuar como ACS. Os ACS identificam que a educação no
trabalho acontece na forma de capacitações. Em relação aos aspectos organizacionais, as
capacitações são desenvolvidas a partir de um cronograma fechado; sem periodicidade;
com carga horária insuficiente para a aprendizagem; há privilégio de determinadas
categorias profissionais em relação ao acesso às ações educativas posteriores à formação
inicial; há falha quanto à divulgação das capacitações; o espaço físico onde são
desenvolvidas as capacitações é inadequado, com número elevado de participantes que
contribuem para a ineficácia dos recursos audiovisuais e os agentes comunitários não
recebem auxílio transporte para participação nas capacitações. Quanto aos aspectos
teórico-metodológicos das capacitações, identificou-se que os conteúdos são desenvolvidos
de modo superficial, com valorização de termos técnicos; os assuntos são direcionados para
ACS da área urbana; há ausência de espaços de discussão e troca de experiências; há
divergência entre a teoria e a prática; adotam-se abordagens idênticas para realidades
diferentes de ESF e EACS; as dinâmicas propostas são interessantes, contudo os estudos
de casos não têm retorno dos instrutores e não há um método de avaliação do aprendizado
adquirido. O estudo revela ainda que, para os ACS, as capacitações não contribuem de
modo significativo para a orientação do processo de trabalho, levando-os a buscarem outras
estratégias que possam auxiliar no seu aprendizado. Logo, recomenda-se a criação de
espaços educativos coletivos para os ACS que visem à transformação das práticas
profissionais por meio de processos reflexivos, de discussão de propostas e trocas de
experiências de acordo com a realidade e com a necessidade dos trabalhadores e que os
valorizem como sujeitos ativos no processo de aprendizagem.