Estudo da alça de vazão reduzida da UHE Passo São João - RS como possível área de reprodução da ictiofauna migratória
Resumo
Corredores ecológicos exercem papel fundamental no ecossistema. A fragmentação desses sistemas provoca muitas vezes a desestabilidade ambiental, ocasionando impactos diretos na biodiversidade associada. Uma das principais causas da fragmentação desses corredores ecológicos em recursos hídricos são as construções de barragens, alterando o regime hidrológico natural de escoamento, ocasionado pelo desvio da faixa de vazão natural, surgindo assim, trechos de vazão alterada, conhecidos como alça de vazão reduzida (AVR). Os peixes que possuem comportamento migratório utilizam esses corredores em épocas de piracema para sua sucessão ecológica, desta forma, o entendimento desta sucessão ecológica é importante para a conservação dessas espécies. A Usina Hidrelétrica Passo São João (UHE PSJ), instalada no município de Roque Gonzáles RS, junto ao rio Ijuí, possui uma barragem de 21 metros, sendo assim, considerada neste contexto uma possível fragmentadora do corredor ecológico natural do rio. O presente estudo teve por objetivo avaliar se a AVR, que possui 4 km de extensão e surgiu a partir da instalação dessa usina, apresenta algum valor como área de reprodução ou berçário dos peixes migradores. Para isso foram realizadas coletas mensais no período de piracema, entre outubro de 2013 e março de 2014 e ainda uma coleta pontual de 24h no mês de outubro de 2014. Com auxílio de rede do tipo Bongo de 0,5/1,3 m com malha 0,5 mm, foram realizadas as coletas de superfície embarcadas e não embarcadas com duração de 20 minutos cada, realizando, logo em seguida, uma réplica com mesmo tempo de duração em uma maior profundidade, na qual ainda foi acoplado na boca da rede, fluxômetro para calcular a quantidade de água filtrada. Em todos pontos amostrais, foram realizadas medidas de pH, temperatura da água e do ambiente, transparência da coluna d água, profundidade de coleta e oxigênio dissolvido. Após um esforço de coleta de mais de 13 mil m³ de água filtrada, foram registradas 25 larvas, sendo que destas, 15 não foi possível realizar a identificação. Uma larva da espécie Prochilodus lineatus, uma de Pimelodus maculatus e uma larva de Leporinus sp. Ainda 7 indivíduos classificados a nível de ordem, sendo eles 4 Siluriformes e 3 larvas da ordem Characiformes. Todas as amostras foram conservadas com formol 4%. Tendo em vista que o sucesso amostral deste estudo esteja caracterizado por períodos de pico de chuva ocorridos nos meses de outubro e novembro, ficou evidenciado que os eventos extremos, como grandes períodos de chuvas e temperaturas elevadas, estão influenciando diretamente no ciclo reprodutivo da ictiofauna. Diante dos resultados podemos concluir que a AVR, apresenta valor como área de passagem e migração tanto a montante, quanto a jusante, para os peixes migradores e para as larvas da ictiofauna. Porém, tendo em vista a grande variabilidade deste ambiente quanto às condições abióticas, e o esforço amostral mensal desse estudo, não foi possível definir se a AVR está servindo de berçário ou local de desova para a ictiofauna.