Estrutura e florística de dois fragmentos ripários de floresta estacional decidual no noroeste do Rio Grande do Sul, Brasil
Resumo
As florestas ripárias, por serem localizadas nas margens de rios, contribuem para a qualidade dos recursos hídricos e para a conservação da biodiversidade. Nesse contexto, o objetivo do trabalho foi avaliar a florística e a estrutura de dois fragmentos de Floresta Estacional Decidual ripária, no noroeste do Rio Grande do Sul, com os seguintes objetivos específicos: i) caracterizar a florística e estrutura do componente arbóreo; ii) avaliar aspectos fitossociológicos da regeneração natural; iii) determinar quais variáveis ambientais medidas foram correlacionadas com a abundância das espécies mais densas. Os dois fragmentos florestais estão localizados no município de Guarani das Missões-RS, na margem leste do rio Ijuí. O componente arbóreo (diâmetro à altura do peito (DAP) ≥ 5 cm) foi amostrado em 36 parcelas (18 por fragmento), distribuídas sistematicamente em faixas perpendiculares à margem do rio e distantes 40 m entre si, totalizando 7200 m2 de superfície amostrada. A regeneração natural foi amostrada em duas classes: Plântulas - indivíduos com altura ≥ 0,20 m e DAP < 1 cm; Regeneração Natural Estabelecida (RNE) - indivíduos com 1 cm ≤ DAP < 5 cm. A classe RNE foi mensurada em 36 sub-parcelas de 5 m x 10 m, sendo instalada uma unidade por parcela de 10 m x 20 m. A classe Plântulas foi medida em subparcelas de 3,16 m x 3,16 m, sendo instalada uma unidade por subparcela de 5 m x 10 m. No total, foram amostrados 1800 m2 da classe RNE e 360 m2 da classe Plântulas. Considerando os dois fragmentos ripários, foram amostradas 58 espécies e 24 famílias botânicas no componente arbóreo. A análise da categoria sucessional evidenciou predominância das climácicas exigentes de luz nas duas áreas, seguida da maior abundância das climácicas tolerantes à sombra apenas no fragmento Pinheiro Machado (PM), indicando que este fragmento possui melhor estado de conservação. As espécies mais importantes no PM foram Matayba elaeagnoides (10,5%) e Actinostemon concolor (9,8%), e no fragmento Linha do Mel (LM) foram Matayba elaeagnoides (12,2%) e Gymnanthes klotzschiana (9,5%). Algumas das correlações mais fortes foram de Gymnanthes klotzschiana (-0,49) e Actinostemon concolor (0,45) com cota de elevação, indicando respectivamente adaptabilidade a sítios que acumulam água por mais tempo (partes baixas do relevo) e sítios bem drenados (partes altas). Na regeneração natural das florestas ripárias foram constatadas 71 espécies, sendo a maior diversidade observada no fragmento LM em comparação ao fragmento PM. As espécies climácicas exigentes de luz apresentaram maior riqueza nas duas classes de regeneração e nas duas florestas analisadas. A estratégia de dispersão zoocórica foi a principal responsável por incrementar a riqueza da regeneração natural. Em ambos os fragmentos, a maior parte das espécies ocorreu de forma agrupada, mostrando que as populações regenerantes se estabelecem adensadas em poucas parcelas. As espécies Actinostemon concolor (28,1%) e Cupania vernalis (8,4%) apresentaram maior valor de regeneração natural relativa (RNR) no PM, enquanto que Actinostemon concolor (13,7%) e Pavonia sepium (10,1%) se destacaram no fragmento LM. A. concolor, que apresentou elevada densidade nas duas classes de regeneração dos dois fragmentos, teve correlação positiva com a cota de elevação, camada de serapilheira acumulada e distância da borda, e correlação negativa com abertura do dossel.