Dinâmica espaço-temporal de fragmentos florestais em duas microrregiões do noroeste do Rio Grande do Sul
Resumo
A compreensão da dinâmica da paisagem envolve o entendimento das mudanças no uso e ocupação da terra. Nesse processo, a fragmentação de florestas é muito comum. Nesse sentido, o objetivo do trabalho foi avaliar, em uma perspectiva multitemporal, a dinâmica de fragmentos florestais das microrregiões de Frederico Westphalen e Três Passos - RS, face a conjuntura da população rural e aspectos geomorfológicos. O período de estudo foi de 1985 a 2014, e abrange área de 9.046,9 km², que se localiza no Bioma Mata Atlântica. Foram adquiridas imagens do satélite Landsat 5 (sensor Thematic Mapper) e Landsat 8 (sensor Operational Land Imager) das datas de 1985, 1994, 2005 e 2014. A classificação das imagens se deu por fotointerpretação manual. Os fragmentos florestais foram mapeados e divididos em classes de tamanho: muito pequenos (< 5 ha), pequenos (5 10 ha), médios (10 100 ha) e grandes (> 100 ha). Na análise socioeconômica, foram obtidos dados de população rural (1980 a 2010) e dados de produção vegetal (madeira para carvão, lenha e tora). Para a análise geomorfológica, foram adquiridas imagens do sensor Advanced Spaceborne Thermal Emission and Reflection Radiometer (ASTER) - Global Digital Elevation Model (GDEM), e gerados três mapas: declividade, hipsometria e orientação de vertentes. Para a análise da dinâmica dos fragmentos, foram inseridas algumas métricas de paisagem. No que se refere a cobertura arbórea, foi identificado um aumento de área de 50,4% entre 1985 e 2014, enquanto o número de fragmentos florestais teve um aumento de 56,2%. Grande parte dos fragmentos florestais mapeados possui tamanho muito pequeno e estão localizados em terrenos ondulados e fortemente ondulados, em altitudes entre 300 e 450 m e com suas vertentes orientadas a leste e sul. Foi identificada uma queda gradual nos índices de população rural de todos os municípios constituintes das duas microrregiões, o que indica um aumento do êxodo rural. A produção madeireira para carvão, lenha e tora apresentou, em ambas as microrregiões, um abandono ou diminuição na obtenção desses produtos pelo método da extração vegetal, entretanto, verificou-se um aumento da produção utilizando técnicas silviculturais. Em praticamente todos os municípios, foi constatado aumento da cobertura florestal entre 1985 e 2014, em maior ou menor proporção. Ao cruzar os dados de população rural com o índice de cobertura arbórea dos municípios, verificou-se uma tendência de aumento da cobertura florestal à medida que diminui a população rural. Os mapas de transição da fragmentação florestal apresentaram ganho de área de 1.258,1 km², perda de área de 433,4 km² e áreas de fragmentação constantes de 1.081,3 km². De acordo com os cálculos obtidos por meio das métricas de paisagem, o número de fragmentos, bem como seu tamanho, apresentaram um aumento no decorrer do tempo, ocupando cada vez mais a área da paisagem. Entretanto, a paisagem da região apresenta-se muito fragmentada, provavelmente ocasionada pela regeneração natural da floresta. Em geral, os fragmentos possuem formas regulares e perímetros complexos. De acordo com os resultados apresentados, apesar de a região estar bastante fragmentada, a mesma está passando por um processo de regeneração florestal, fato que reflete o abandono de áreas de difícil cultivo agrícola, as ações de incentivo a preservação das matas nativas, o plantio de florestas e a formação de corredores ecológicos.