A constituição do ethos na argumentação: um estudo dos marcadores discursivos no ensaio jornalístico
Resumo
O presente estudo tem por objetivo compreender, sob a perspectiva teórica
da Linguística da Enunciação, a constituição do ethos na argumentação, em
particular no ensaio jornalístico, por meio dos efeitos de sentido produzidos pelos
marcadores discursivos. A problemática sobre a qual nos debruçamos é uma das
formas de refletir a questão das relações entre forma e sentido na enunciação do
sujeito. No entanto, tendo em vista que a enunciação é um acontecimento único e
irrepetível, nossa análise fica restrita ao seu produto: o enunciado. É na
materialidade linguística, configurada em nosso estudo pelos marcadores
discursivos, que o sujeito se marca, e é através dela, também, que podemos
identificar um perfil discursivo desse sujeito, ao qual chamamos ethos. Como
embasamento teórico e metodológico para esta investigação, centramo-nos,
basicamente, nos estudos de Ducrot (1987), Martín Zorraquino e Portolés Lázaro
(1999), Fernandes (2005), Amossy (2008), Maingueneau (2008) e Perelman e
Olbrechts-Tyteca (2005). Para o desenvolvimento desta pesquisa, analisamos os
efeitos de sentido produzidos pelos marcadores discursivos em um corpus composto
por 25 ensaios do colunista Cláudio de Moura Castro e 25 de Roberto Pompeu de
Toledo, publicados na revista Veja, nos anos de 2008 e 2009. Identificando que há
uma disparidade muito grande em relação ao uso desses elementos entre um e
outro conjunto de textos, avaliamos em que medida tais mecanismos linguísticos,
sendo empregados ou não, influenciam como guia para esboçar um ethos discursivo
que emerge dessa materialidade. A importância deste trabalho reside, em primeiro
lugar, no fato de que buscamos contribuir com os estudos enunciativos, ao passo
que o fizemos em interface com a argumentação, refletindo sobre a importância da
materialidade linguística nessa prática. Ademais, nosso estudo se volta a um dos
gêneros de mídia impressa que mais ganha destaque em uma das mais conhecidas
revistas de circulação nacional, sendo muitas vezes usados como material didático
no ensino de língua.