Distinção, corpo de classe e estilo de vida: “as situações que a gente passa, dentro das novelas têm”
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2018-03-28Metadatos
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Esta tese é um estudo comparativo de recepção de telenovela realizado com 8 mulheres de classe média
alta, média classe média e classe popular (média baixa e baixa) -, residentes em Santa Maria, Rio Grande
do Sul. O viés social da presente pesquisa é a classe social, entendida como mediação chave para a
compreensão dos entrelaçamentos entre mídia e contextos socioculturais. Nosso objetivo é compreender as
semelhanças e as diferenças na leitura das representações de classe e processos distintivos presentes na
narrativa de A Regra do Jogo (2015/2016), do horário das 21h, da Rede Globo, realizada por mulheres de
diferentes classes sociais. Buscando dar conta dos usos sociais da telenovela, atentamos principalmente
para seu papel na percepção e conformação do estilo de vida experimentado no cotidiano. A fim de
articular uma teoria de matriz social/cultural e uma de matriz comunicativa, trabalhamos com dois eixos
teórico-analíticos principais: a sociologia bourdiana (habitus, distinção, estilo de vida, capitais, corpo de
classe) e os estudos de recepção latino-americanos (Mapa das Mediações Comunicativas da Cultura de
Martín-Barbero ([1998] 2003). Através de uma apropriação crítica do também chamado mapa noturno
(RONSINI 2011, 2016), a etapa analítica é dividida em dois âmbitos. Para contextualizar a telenovela que
compõe nosso corpus, examinamos as representações de classe e processos distintivos presentes em A
Regra do Jogo através da mediação da tecnicidade. Para a esfera da recepção buscamos compreender os
usos e (re)apropriações das representações de classe presentes na referida telenovela através das mediações:
1) da socialidade, a fim de captar os modos de ser e o estilo de vida das receptoras e 2) da ritualidade,
buscando abarcar os modos de ver e os modos de ler a telenovela. A epistemologia da nossa investigação
segue os Estudos Críticos de Recepção (RONSINI, 2011), através de um trabalho de campo prolongado
com nossas informantes. Nossos resultados demonstram que as representações femininas de A Regra do
Jogo - ligadas às noções tradicionais de maternidade e amor conjugal, da mulher que trabalha, mas não
deixa de administrar o espaço doméstico, além de se dedicar aos cuidados do corpo e da beleza - são lidas
pelas receptoras de todas as classes sociais como aquelas que melhor representam as mulheres brasileiras.
Há, contudo, algumas divergências nessas leituras: enquanto as receptoras das frações alta e média da
classe média acreditam que as personagens pobres são bem representadas pela materialidade de um estilo
de vida popular na linguagem, na aparência, nas - poucas - roupas e nos gestos; as receptoras da classe
popular criticam veemente a vestimenta “vulgar”, os erros gramaticais, o comportamento promíscuo e a
ausência da inserção dessas personagens em ambientes de trabalho e estudo. Esses dados apontam que as
diferentes leituras das representações de classe e gênero produzidas na narrativa de A Regra do Jogo
tomam parte nos processos de identificação e desidentificação das informantes com os estilos de vida que
demarcam as distinções entre as classes. Todas as informantes se desidentificam com o estilo de vida das
personagens consideradas “vulgares”, “bregas”, “chamativas” e “extravagantes”: as receptoras da alta e
média classe média, justamente por acreditarem que essas características refletem a realidade das classes
populares fora das telas, logo, não as representam, enquanto as de classe popular não se reconhecem nessas
representações dominantes das mulheres pobres, e por isso, as rejeitam. Todas elas se identificam e/ou se
projetam nas representações femininas que são “elegantes”, “chiques”, “trabalhadoras”, “batalhadoras”,
“boas mães” e “bonitas”: majoritariamente aquelas personagens que não pertencem aos setores populares.
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