Biopolítica e formação: vida, exceção e profanação na educação
Resumo
Este trabalho de análise bibliográfica apresenta o debate sobre biopolítica em seu estágio atual e estabelece linhas de desenvolvimento de suas implicações, pensadas em termos educacionais, considerando, em especial, a ideia de formação. Situa-se, portanto, na seara das discussões da filosofia da educação e pretende fazer ecoar seus resultados, de forma indireta, também sobre a área de investigação da formação de professores. Ocupa-se centralmente de interpretar a afirmação do filósofo Giorgio Agamben de que, atualmente, o campo, e não mais a cidade, constitui-se como o paradigma político por excelência. Para tanto, fixa um panorama do debate conceitual em torno da noção de biopolítica, expondo-o através da reconstrução de argumentos de Michel Foucault, Roberto Esposito, Antonio Negri e Michael Hardt. Em seguida, reconstrói pontos nucleares do pensamento de Agamben, autor central no presente estudo, e analisa em especial os conceitos de vida, de exceção e de profanação. Volta-se também para a problemática do estatuto jurídico-político dos campos de concentração e para o modo pelo qual, no momento atual do desenvolvimento capitalista, esse estatuto instala-se no seio da vida social levando a uma crise da noção tradicional de sujeito. Recupera, nesse sentido, as noções de sujeito e experiência tal como foram pensadas no marco teórico das filosofias modernas e atualiza a discussão em termos contemporâneos, orientada agora pelo modelo linguístico. Faz o percurso argumentativo incidir sobre o pensamento da educação, resgatando sua condição ontológica e abrindo espaço para a consideração de estratégias contraeconômicas e profanadoras a permear os dispositivos educacionais em funcionamento. Propõe, então, pensar uma ideia ampla de formação como profanação da economia escolar, animada por aquilo que nomeia “máquina pedagógica”. Como não persegue respostas sistêmicas aos problemas identificados, não levanta a ideia de uma conversão do sistema educativo; sugere, porém, como resultado da investigação, que a educação, pautada por projetos estatais e também funcionando na contingência do mundo vivido, seja permeada e interpenetrada por ideias e práticas de uma formação mais ampla que os objetivos de caráter mais imediato atinentes ao processo de escolarização. Tal ideia de formação ampla, guardada então como possibilidade a ser desenvolvida, é tributária dos modelos de formação humana representados pela paideia antiga, pela bildung moderna e pela formação omnilateral contemporânea. Nela, vê-se a possibilidade de uma extensão do domínio do combate da biopolítica pelo ser. A pretensão do biopoder é, ao apartar a vida de sua forma, produzir vida nua, mera sobrevivência. Nesses termos, uma educação que não se deixa reduzir à condição de tecnologia social de produção de subjetividades dóceis, úteis e meramente funcionais aos interesses e demandas do próprio poder é concebida como aquela em que está sempre guardada a possibilidade da constituição de formas de vida pelas quais o biopoder não possa desconectar vida e forma. A forma-de-vida (o sentido mais forte do conceito, no qual a vida não pode nunca ser cindida de sua forma) é, mais que tudo, pensamento. Mesmo os modos de vida habituais ou a materialidade dos processos corpóreos, quando não permitem a cisão entre sua forma e a vida nua, são forma-de-vida consolidadas, e, como tal, exibem o pensamento em sua acepção mais humana: a da decisão pessoal e livre por uma vida própria. Esta é a potência da vida a ser antes de tudo resguardada, nos termos propostos por este trabalho, pela ideia de formação profanadora. Os encaminhamentos metodológicos adotados para este estudo são os da hermenêutica de cunho reconstrutivo em seu influxo com elementos do método paradigmático.
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