O contraste entre intentio e distentio na expêriencia interna do tempo: Paul Ricoeur e o livro XI das Confissões
Abstract
Paul Ricoeur faz uma reconstrução da categoria de tempo de Santo Agostinho, centrada no Livro XI das Confissões, apontando elementos que, segundo ele, incorporam nas entrelinhas o que comprovaria a tese de que o ser e a medida do tempo se resolvem de modo narrativo, mediante a dialética da intentio e distentio. Nossa proposta, além de reconstruir a interpretação ricoeuriana do Livro XI das Confissões, pretende verificar a amplitude e validade desta interpretação no que toca ao tratamento da relação entre intentio e distentio, a solução narrativa ao paradoxo da temporalidade e à compreensão de que o contraste entre tempo e eternidade serve para intensificar a experiência da temporalidade. Para levar a cabo esta tarefa, examinaremos três blocos temáticos principais. O primeiro bloco consiste em apresentar a proposta de resolução dos paradoxos do ser e da medida do tempo o que implica em passar de uma a concepção de tempo cosmológico para uma concepção de tempo da alma ou psicológico, e o contraste entre a intentio e a distentio. O segundo bloco procura pelos elementos textuais das Confissões que são tomados por Ricoeur para justificar a proposta de uma solução narrativa aos paradoxos do tempo. Neste tópico, também avaliaremos a crítica dirigida pelos especialistas em Agostinho contra a interpretação ricoeuriana. Em terceiro, examinaremos a relação entre tempo e eternidade com base nas três funções sugeridas por Ricoeur, em que a eternidade serviria para intensificar a experiência temporal. O presente trabalho apresenta uma resposta positiva da apropriação por Paul Ricoeur do Livro XI das Confissões no que diz respeito ao contraste entre intenção e distensão na experiência interna do tempo e o contraste entre tempo e eternidade na experiência da consciência externa do tempo. Tal pretensão possui relevância na medida em que consiste em um dos pontos cruciais para que Ricoeur alcance três dos aspectos conclusivos de sua obra, a saber: em Tempo e narrativa I, que as aporias do tempo se resolvam pela poética da narrativa; que a temporalidade se torna humana quando articulada de maneira narrativa; e, por último, em Tempo e narrativa III, que a narrativa seja tomada como a “guardiã do tempo”, na medida em que só há tempo pensado enquanto tempo narrado.
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