“Porque não é o escrever em si, é ver como é que está escrito”: discursos sobre letramentos acadêmicos em inglês em uma comunidade de prática de química
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2019-08-22Metadatos
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Embora tenha uma longa história de produção de conhecimento na área de Letramentos Acadêmicos
(LA) no Brasil, Ferreira e Stella (2018, p. 17) apontam que a produção de pesquisas em universidades
brasileiras sobre o ensino e aprendizagem de escrita para fins acadêmicos ainda é uma ação
negligenciada. Considerando o aumento na cobrança para publicações e internacionalização e a
necessidade de fundamentar práticas pedagógicas para a produção textual em resultados de pesquisa
em cada um dos diferentes contextos disciplinares (MOTTA-ROTH, 2013, p. 12), este estudo visa
explorar as práticas de letramento acadêmico (LA) em inglês e sua aprendizagem em um programa de
pós-graduação bem-conceituado que apresenta alta produtividade de publicação internacional em inglês,
o Programa de Pós-graduação em Química da UFSM (PPGQ). Para esse objetivo, propomos as
seguintes perguntas de pesquisa: 1) Quais práticas de LA em inglês são mais valorizadas pelos
professores, tanto para sua própria produção como para a produção de seus estudantes, e por quê? 2)
Como os professores desenvolveram seus LA em inglês e quais aspectos apresentam maior grau de
dificuldade para eles? 3) Quais dinâmicas de coautoria e/ou abordagens pedagógicas utilizam para o
desenvolvimento dos LA de seus estudantes e em quais aspectos de escrita os estudantes apresentam
maior grau de dificuldade? O quadro teórico adotado é interdisciplinar ao combinar a Sociorretórica
(BAZERMAN, 2007; BAWARSHI; REIFF, 2013), os LA (LEA; STREET 1998, IVANIC 1998) e a Análise
Crítica do Discurso (ACD) (FAIRCLOUGH, 2003). Também são tomadas como referências os conceitos
de Comunidades de Prática (CdP) e Participação Periférica Legítima (PPL) (LAVE; WENGER, 1991;
WENGER, 1998). Usando dados gerados num questionário semiestruturado e entrevistas qualitativas,
analisamos criticamente os discursos dos professores, explorando se a aprendizagem de habilidades,
competências e condições discursivas envolvidas nos LA em inglês é mediada pela PPL em uma
comunidade estruturada para dar acesso crescente a novos membros e formá-los para participar de
forma plena na comunidade. Argumentamos que a CdP estudada demonstra graus variáveis de PPL dos
estudantes. Professores que relatam um maior grau de PPL junto a uma rede colaborativa para escrita e
revisão entre seus alunos também relatam menos dificuldades no desenvolvimento dos LA de seus
alunos. Por outro lado, mesmo quando exista maior grau de PPL, constatamos a necessidade de
abordagens pedagógicas capazes de subsidiar a PPL existente. O discurso dos professores revela uma
tensão dialética em que, por um lado, a escrita científica é caracterizada como fácil e, por outro lado, a
escrita de artigos é retratada como difícil e os professores reportam que seus alunos apresentam muitas
dificuldades. Argumentamos que essa tensão está ligada, na maior parte dos relatos, a uma abordagem
pedagógica alinhada com a noção de os LA serem habilidades cognitivas adquiridas por meio de
conhecimento tácito e não pelo ensino explícito dentro de uma perspectiva de LA como práticas sociais.
Nesse sentido, recomendamos a criação de redes colaborativas na CdP e a introdução de uma
abordagem pedagógica transformativa e colaborativa que permita que o aluno se identifique como autor
dentro da comunidade, compreendendo os LA como ações sociais e desenvolvendo um olhar crítico em
relação aos textos e sistemas de gênero que os constituem.
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