Efeito farmacológico do disseleneto de m-trifluormetil-fenila na comorbidade entre dor e depressão em camundongos
Fecha
2015-07-24Metadatos
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A dor crônica e a depressão geralmente coexistem, e inúmeros mecanismos estão envolvidos na patogênese desta comorbidade, o que a torna resistente ao tratamento. O sistema serotoninérgico é considerado um mecanismo central na díade dor-depressão, que também pode ser originada a partir de disfunções do sistema imune ou danos no tecido neuronal, envolvendo o processo de neuroinflamação. O composto orgânico de selênio disseleneto de m-trifluormetil-fenila (m-CF3-PhSe)2 apresenta efeito antinociceptico e do tipo antidepressivo em modelos agudos em camundongos e evidências comportamentais demonstraram que o seu efeito antidepressivo está relacionado com o sistema serotoninérgico. O objetivo deste estudo foi caracterizar melhor os efeitos farmacológicos do (m-CF3-PhSe)2 e investigar o efeito do mesmo na comorbidade entre dor e depressão em camundongos, abordando os mecanismos patogênicos desta condição. O projeto de pesquisa foi aprovado pela Comissão de Ética no Uso de Animais (CEUA) da Universidade Federal de Santa Maria, sob o número 042/2012. Primeiramente foi demonstrado que o sistema serotoninérgico também está envolvido no efeito antinociceptivo do (m-CF3-PhSe)2 (1 50 mg/kg, p.o.) no teste da injeção de glutamato na pata de camundongos, uma vez que antagonistas dos receptores serotoninérgicos 5-HT1A (WAY100635) e 5HT2A/2C (ritanserina) bloquearam seu efeito. Além disso, o (m-CF3-PhSe)2 (10 e 50 mg/kg, p.o.) inibiu a recaptação de serotonina (5-HT) ex vivo em sinaptossomas. Também foi determinado a distribuição de selênio em diferentes tempos após a administração de (m-CF3-PhSe)2 (500 mg/kg, p.o.) em camundongos, o qual apresentou uma ampla distribuição em diferentes tecidos, incluindo o cérebro. Considerando que a inflamação pode estar intimamente relacionada com a depressão, avaliou-se também o efeito do (m-CF3-PhSe)2 (0.01 50 mg/kg, i.g.) no comportamento do tipo depressivo induzido pela administração intracerebroventricular (i.c.v.) da citocina pró-inflamatória fator de necrose tumoral-α (TNF-α) nos testes do nado forçado (TNF) e da suspensão da cauda (TSC). O tratamento agudo com (m-CF3-PhSe)2 em baixas doses (a partir de 0.1 mg/kg) preveniu o aumento do tempo imobilidade dos animais, o qual representa um comportamento do tipo depressivo, em ambos os testes, sem alterar a atividade locomotora dos camundongos. As doses que não foram efetivas (0.01 mg/kg no TNF e 0.1 mg/kg no TSC) no tratamento agudo bloquearam o efeito do TNF-α quando administradas subcronicamente por 2 semanas. Além disso, o (m-CF3-PhSe)2 apresentou efeito anti-inflamatório nos tratamentos agudo e subcrônico ao prevenir a ativação da proteína quinase ativada por mitógeno p38 (p38 MAPK) e o aumento dos níveis de fator nuclear-κB (NF-κB) induzidos pelo TNF-α no hipocampo e córtex pré-frontal de camundongos. Por fim, foi demonstrado que o (m-CF3-PhSe)2 (1 e 10 mg/kg, i.g.) apresentou efeito antinociceptivo e do tipo antidepressivo em um modelo de comorbidade entre dor e
depressão induzido pela ligação parcial do nervo ciático (LPNC) em camundongos, associado a um efeito anti-inflamatório. A LPNC induziu alodínia mecânica observada no teste dos filamentos de Von-frey e aumento do tempo de imobilidade dos animais no TNF e o (m-CF3-PhSe)2 tanto no tratamento agudo quanto no subcrônico em baixas doses foi efetivo em bloquear estas alterações. A LPNC causou também o aumento dos níveis de citocinas pro-inflamatórias no soro, no córtex cerebral e no hipocampo de camundongos, bem como do hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) e da corticosterona no soro, a ativação da p38 MAPK, o aumento dos níveis de NF-κB e da cicloxigenase-2 (COX-2), a diminuição dos níveis do fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF) e o aumento da recaptação de 5-HT e a liberação de glutamato, no córtex e no hipocampo. De maneira geral, tanto o tratamento agudo (10 mg/kg, i.g.) quanto o subcrônico (0.1 mg/kg) com (m-CF3-PhSe)2 foram eficazes em bloquear essas alterações, embora os melhores resultados foram observados no tratamento subcrônico. Tendo em vista que a díade dor-depressão é uma condição multipatogênica e a inflamação pode ter um papel central nessa comorbidade, o (m-CF3-PhSe)2 poderia ser considerado uma interessante alternativa terapêutica para tratar a dor crônica associada à depressão.