Imaginário, memória e linguagem: as fronteiras entre o dizível e o indizível no ensino da língua portuguesa
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2004-06-22Metadatos
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O trabalho Imaginário, Memória e Linguagem: as fronteiras
entre o dizível e o indizível no ensino da Língua Portuguesa vinculase
à Linha de Pesquisa Formação de Professores do Curso de Mestrado
em Educação da UFSM e ao GEPEIS que investiga imaginário, memória
e formação docente. Este trabalho objetiva buscar aproximações com os
imaginários docentes construídos sobre o ensino da Língua Portuguesa,
nos processos de formação e na prática pedagógica, através das histórias
de vida de quatro professoras de escolas públicas. O método História de
Vida traz para o contexto educacional a dimensão simbólica e o
deslocamento da análise das grandes formações ideológicas para a
inserção dos docentes como sujeitos históricos e suas ressignificações
sobre a formação e a prática, a partir dos olhares do imaginário. As
primeiras imagens revelaram o gostar da língua como um elo entre o
sujeito e a profissão, construída a partir da oportunidade de tornar-se
professora. Sobre o curso de formação inicial, as imagens são negativas,
relacionadas ao tecnicismo traduzido no estudo de estruturas gramaticais,
relegando a produção textual, a leitura e a metodologia a um plano
inferior. Em virtude da incompletude dessa formação, o fazer pedagógico
constrói-se na prática, reiterando o imaginário instituído que liga a
docência ao improviso. Outras imagens mostraram um sujeito em conflito
entre as antigas práticas e as exigências contemporâneas de ensino da
língua, que privilegiam a inserção do aluno e suas diferenças. Essa
incompletude é constitutiva da formação e do sujeito-docente pela
indissociabilidade entre ele e sua formação, aspecto pessoal e
profissional. Assim, o dizer sobre remete às imagens outras, às do próprio
sujeito e suas identidades, à busca dos saberes necessários à prática. Os
sujeitos, num outro olhar, percebem-se sobrecarregados pelo excesso de
atividades didáticas, mas, sobretudo, por buscarem a completude pela
autoformação e atualização. O mito professora-de-português, numa
sociedade que não valoriza a docência, pode significar autovalorização,
ser estratégia para evadir dificuldades impostas pelo contexto,
aproximando da completude imaginária. As imagens formadas por alunos
sobre a língua ligam-se a algo difícil , chato e sobre o qual poucos
detêm o conhecimento. Isso contribui para a formação da imagem da
professora de português atravessada por conflitos: entre o ideal mitificado
e o real, enquanto pessoa e profissional, que, pela história, não pode dar
o que não recebeu , mas obriga-se a buscar a completude imaginária. Em
síntese, os sujeitos procuram compor a imagem ideal de professora,
especialmente pelo domínio dos saberes disciplinares, pedagógicos e
experienciais. Entretanto, a incompletude é constitutiva do sujeito, faz
parte das identidades que se constroem pelas condições de produção,
pela historicidade, pelas inovações e produção de saberes. Assim, o
gosto pela língua, o mito, a sobrecarga e a relação dos alunos com a
língua, as re-significações e os imaginários compõem faces das
identidades, expressas em linguagem. Essa se entrelaça à memória e ao
imaginário, deixa fluir, entre o dizível e o indizível, as histórias de vida e
aquilo que, no silêncio, pode se expressar como parte da docência.