O cotidiano do ser adolescente que cumpre medida sócioeducativa: desvelando possibilidades assistenciais de enfermagem
Resumo
A pesquisa foi desenvolvida na abordagem fenomenológica a partir do pensamento
de Martin Heidegger, com o objetivo de compreender o cotidiano do ser-adolescente
que cumpre medida socioeducativa de semiliberdade. O cenário da pesquisa foi uma
unidade da Fundação de Atendimento Socioeducativo, no Rio Grande do Sul. Deuse
inicio após a autorização pela Fundação e a aprovação pelo Comitê de Ética da
Universidade Federal de Santa Maria. Para produção dos dados, a entrevista
fenomenológica foi desenvolvida com nove adolescentes institucionalizados, no
período de fevereiro a maio de 2009. Na análise compreensiva, os resultados
apontaram que vivenciar a medida socioeducativa significa para o adolescente uma
prisão, algo ruim que ele tem que pagar, re-conhece que errou. Sabe que não esta
no sistema penitenciário por conta da idade e re-conhece que jogou fora sua
adolescência. Na instituição vai à escola para aprender algo, para arrumar algum
trabalho. Enfrenta dificuldades de conviver com rivais de rua, com a autoridade dos
agentes institucionais e as desigualdades do sistema. Valoriza a família, pai, mãe,
irmãos, prima, tia, tio, filho e namorada, a semiliberdade proporciona essa
possibilidade. Na análise interpretativa, no cotidiano o ser-adolescente se mostrou
em-meio ao sistema socioeducativo, re-velando modos de ser, que exprime uma
impessoalidade. Absorvido pela rotina do sistema se mantém na ocupação, mostra
que está-lançado naquilo que está determinado e no qual ele permanece. Indica
empenho na convivência, que constitui um modo especial de ser-no-mundo, em que
é totalmente absorvido pelo mundo e pela co-presença dos outros no impessoal. Na
ocupação e na decadência mostra que precisa de ajuda da enfermagem e do
sistema socioeducativo mediado pelo trabalho transdisciplinar e pelo fortalecimento
de uma rede de apoio social, com vistas à sua reinserção mediada pela coresponsabilidade
da família, comunidade e Estado. Traz à luz um cuidado que
possibilita a recuperação da escolha, que devolve a singularidade de ser.