Por que (não) ensinar espanhol no Brasil? As políticas linguísticas e a gramatização no ensino do espanhol a partir da glotopolítica
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2017-02-17Metadatos
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Para responder à pergunta “Por que (não) ensinar espanhol no Brasil?” a tese verifica os argumentos operados a partir dos campos governamental e educacional, delineando os três movimentos que oficializaram o ensino da língua nas escolas brasileiras de ensino médio, tomados como acontecimentos geopolíticos-linguísticos: 1919 (Collegio de Pedro II), 1942 (Reforma Capanema) e 2005 (“Lei do Espanhol”). Para reconstruir esta historicização subsidia-se teoricamente nos campos de estudo da Glotopolítica (ARNOUX, 2000), das Políticas Linguísticas (HAMEL, 1998) e da História das Ideias Linguísticas (AUROUX, 1992, ORLANDI, 2001), a partir da qual toma a gramatização como constituinte do processo. O arquivo que abre como corpus (o discurso argumentativo que fundamenta as leis e os primeiros instrumentos linguísticos produzidos para efetivar a implementação das Políticas Linguísticas) associa-se a diferentes ideologias linguísticas (ARNOUX e VALLE, 2010), por vezes configuradas como ideologemas (ANGENOT, 1982) e expressadas sob a forma de sequências verbais mais ou menos cristalizadas - as fórmulas (KRIEG-PLANQUE, 2010). Tais elementos referem-se a representações sobre a língua, sobre o ensino da língua e sobre a relação entre as línguas espanhola e portuguesa. No processo de historicização, retrocedendo no tempo e no espaço, se pode ver que as relações geopolíticas entre Espanha e Portugal produziram tensões entre os elementos hispânico e luso, que eventualmente se projetaram sobre as representações do espanhol no Brasil, na relação entre-as-línguas. No entanto, no contexto mais próximo, o ensino da "língua do outro" se viu condicionado, em primeira instância, às relações geopolíticas entre as nações e seus interesses, por vezes pendulares, em cada temporalidade. O gatilho que acionou o ensino do espanhol no Brasil, desde as primeiras circunstâncias geopolíticas continentais, era de ordem militar. Visando uma política de solidariedade americana, idealizou-se um grande exército bilíngue “nas letras e nas armas”, nos cenários ameaçadores das duas grandes guerras mundiais, quando se efetivaram os dois primeiros acontecimentos. Depois disso, no século XX, ainda no contexto do MERCOSUL e das relações forjadas pelo pan-hispanismo, viu-se desgastado o processo de Regionalização sul-americana que motivou o terceiro acontecimento. No momento atual (setembro / 2016), no contexto da Aliança do Pacífico, o governo que toma posse no Brasil outorga uma Medida Provisória (MP 746) que revoga a "Lei de 2005" – que havia concedido a oferta obrigatória da língua espanhola. Este fato passa a figurar como um elemento a mais para a afirmação de algo que não se queria admitir: a persistência dos obstáculos que se impõem e sobrepõem sobre o ensino do espanhol no Brasil, desde o seu primeiro acontecimento. A tese trata de colocar este novo acontecimento como um componente do contexto geopolítico atual e, prioritariamente, como um fato glotopolítico que formaliza a desintegração regional, tendo em vista que suprime o ensino de um idioma que integra as línguas oficiais do bloco regional mais próximo e em pleno desenvolvimento no que diz respeito à valorização do elemento linguístico como um veículo fundamental na integração sul-americana. Temos como símbolo mais atual o arriamento da bandeira do Mercosul no Ministério das Relações Exteriores. Temos novamente o espanhol silenciado. Temos a oficialização do neo-imperialismo linguístico sobre o ensino de línguas estrangeiras.
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