O papel do engajamento na construção do discurso sobre privatização em notícias acerca da polêmica de adesão de hospitais universitários federais à EBSERH
Resumo
No atual cenário de crise político-econômica vivida no Brasil, neste ano de 2017, a privatização apresenta-se com um dos grandes temas que geram polêmica na atualidade (GEE, 2007) e uma das alternativas encontradas pelos governos para tentar obter maior racionalidade administrativa, eficiência operacional e redução de custos. Nesse contexto, a sociedade se vê cada vez mais influenciada pela mídia, que torna-se um veículo com poder persuasivo, influenciando as crenças, os valores, as relações e as identidades sociais (FAIRCLOUGH, 1995), já que a tomada de posicionamentos é quase que imposta à população. No ano de 2011, o lançamento da Medida Provisória (MP) 520, que criou a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH), visando à reestruturação dos Hospitais Universitários Federais (HUFs), gerou um grande debate na mídia. A polêmica gira em torno da implantação da EBSERH nos HUFs, pois apesar de ser pública, a empresa possui capital privado e a comunidade teme que a adesão seja sinônimo de privatização. Partindo desse contexto, o objetivo geral do presente estudo é investigar em que medida as marcas linguísticas de engajamento convocadas pelos jornalistas concorrem para a atribuição de vozes nos discursos sobre privatização em notícias acerca da polêmica da nova gestão de HUFs pela EBSERH. O corpus da pesquisa é composto por 187 notícias de quatro regiões brasileiras: Sudeste, Nordeste, Sul e Centro-Oeste, coletadas no sítio eletrônico Guia de Mídia, entre os anos de 2011 e 2016. Identificamos 1.269 ocorrências de engajamento-atribuição, conforme categorias do Sistema de Avaliatividade (MARTIN; WHITE, 2005), que foram divididas por região, por cidade, por universidade e, em seguida, classificadas de acordo com as seguintes categorias léxico-gramaticais, que também nortearam a análise: 1) vozes e seus posicionamentos e 2) processos empregados (CALDAS-COULTHARD, 1994; HALLIDAY, MATTHIESSEN, 2014), modos de projeção (citação, relato, circunstância de ângulo e citação evocada) e tipo de engajamento-atribuição (reconhecimento ou distanciamento) (MARTIN; WHITE, 2005). Os resultados mostram que há uma abertura ilusória do espaço dialógico ou uma contração mascarada de expansão (MARCUZZO, 2011; SCHERER, 2013), pois os jornalistas das notícias convocam algumas vozes e praticamente excluem outras, não abrindo o espaço dialógico para posicionamentos alternativos. A escolha das fontes e seus posicionamentos, dos expoentes léxico-gramaticais e, consequentemente, o predomínio do emprego do reconhecimento pelos jornalistas refletem diferentes alinhamentos desses autores em cada região analisada, a fim de se solidarizar com os leitores presumidos.
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