Mineralogia e matéria orgânica de terra preta arqueológica e solos adjacentes não antrópicos na região do Apuí Amazonas
Resumo
A Amazônia brasileira apresenta na maior parte da sua extensão, solos altamente intemperizados, ácidos e de baixa fertilidade natural. No entanto, a partir dos anos de 1870, começaram a surgir os primeiros relatos sobre os solos antrópicos da Amazônia, conhecidos como Terra Preta Arqueológica (TPA), de elevada fertilidade natural, altos teores de fósforo e carbono orgânico, além da presença de artefatos líticos e cerâmicos. As Terras Mulatas (TMs) são solos antrópicos que geralmente ocorrem por uma ampla faixa circundando os solos de TPAs. Estes solos têm sua formação relacionada com cultivos indígenas de longo prazo. As TPAs são um dos solos antrópicos mais estudados do mundo, ocorrendo grandes esforços científicos para reproduzir os tipos de compostos orgânicos observados nesses solos. No presente trabalho foram investigadas as seguintes hipóteses: A matéria orgânica dos solos (MOS) de TPAs e TMs apresentam diferentes teores e estabilidades semelhantes; Ocorre formação de óxidos de ferro de baixa cristalinidade devido ao grande incremento de material orgânico ao longo do tempo, durante a formação das TPAs; É possível distinguir solos antrópicos de solos não antrópicos pelos seus atributos químicos, mineralógicos e natureza da matéria orgânica. O objetivo do presente trabalho é avaliar a mineralogia e caracterizar a composição química da fração humina em solos de TPAs, TMs e solos não antrópicos na Região de Apuí, Amazonas. As áreas de estudo localizam-se na mesorregião Sul do estado do Amazonas, mais precisamente no município de Apuí. O trabalho foi realizado avaliando solos antrópicos TPAs e TMs e solos não antrópicos (SNAs), em um total de seis perfis de solos. Foram realizadas análises morfológicas, físicas e químicas para a caracterização dos solos. Para o estudo da mineralogia utilizou-se a difração de raios-X e o Infravermelho com transformada de Fourier (FTIR), além da suscetibilidade magnética dos solos. A fração humina (Fhum) da MOS foi separada, purificada com ácido fluorídrico a 10%, sendo caracterizada pelo FTIR. A Fhum dos solos de TMs apresentou composição semelhante aos solos de TPAs, no entanto, apresentaram menor grau de aromaticidade. A assembleia mineralógica dos solos de TPAs, TMs e SNAs são semelhantes, no entanto, a gibbsita foi somente encontrada nos solos TPAs e TMs, enquanto os reflexos da maghemita foram mais expressivos nos solos TPAs e TMs quando comparados com os SNAs. Ainda, observa-se diferença de cristalinidade da goethita, onde a mesma apresenta maior cristalinidade nos SNAs em comparação aos solos antrópicos. Os solos de TPAs apresentam enriquecimento de cálcio calculado pela função de transporte de massa para todos os horizontes, mostrando assim que a influência antrópica vai além dos horizontes A antrópico, e altera até mesmo os horizontes subsuperficiais.
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