Carcinomas de células escamosas do trato alimentar superior de bovinos associados à intoxicação crônica por samambaia (Pteridium arachnoideum)
Resumo
Os neoplasmas do trato alimentar superior (TAS) são raros em bovinos, porém em algumas regiões, como no Sul do Brasil, os carcinomas de células escamosas (CCEs) do TAS são relativamente comuns e estão associados à ocorrência concomitante de papilomas e ao consumo de samambaia. Embora haja uma teoria de patogênese que considera o papilomavírus bovino tipo 4 (BPV-4) como um co-fator no desenvolvimento desses CCEs, ainda há aspectos da etiopatogênese dessa condição a serem investigados, pois a detecção do BPV-4 em outras regiões geográficas, além das poucas previamente publicadas, é escassa. Além disso, no Brasil, os CCEs esofágicos são observados com uma apresentação macroscópica incomum, como um espessamento anelar estenosante da parede esofágica, que é diferente das formas comuns de apresentação deste tumor que são massas exofíticas ou endofíticas ulceradas ou infiltrativas. Portanto, os objetivos desta tese foram (1) analisar os aspectos epidemiológicos, clínicos e patológicos de 100 casos de CCEs do TAS em bovinos que pastejavam em áreas contaminadas por samambaia (Pteridium arachnoideum), bem como investigar as associações entre esses parâmetros; (2) investigar a presença de papilomavírus nos papilomas do TAS por reação em cadeia da polimerase (PCR) e por imuno-histoquímica; (3) e detalhar os aspectos clínicos e patológicos de 13 casos de CCEs esofágicos anelares estenosantes. No primeiro estudo, sobre os 100 casos de CCEs no TAS, associações estatisticamente significativas entre os sinais clínicos e a localização do tumor no TAS, entre o grau de diferenciação histológica e a localização do tumor e uma tendência a associação significativa entre o grau de diferenciação histológica e a presença de metástases foram observadas. A média de idade dos bovinos com CCEs orofaríngeos foi 7,39 anos, com diferença significativa quando comparado com bovinos com neoplasmas esofágicos (8,6 anos). DNA ou antígeno de papilomavírus não foram detectados nos papilomas por PCR e imuno-histoquímica, respectivamente. Desta forma, os resultados mantem aberta a possibilidade de que papilomas de TAS podem não estar associados ao papilomavírus. Assim, a infecção por BPV-4 pode não ser um co-fator no desenvolvimento dos CCEs em bovinos da região estudada. No segundo estudo, sobre os CCEs esofágicos anelares estenosantes, massas endofíticas, circunferenciais (anelares) no esôfago, com estreitamento luminal (estenose) foram observadas. Os ceratinócitos neoplásicos eram circundados por tecido conjuntivo fibroso moderado a abundante (reação desmoplástica). A coloração de Picrosírius sob luz polarizada demonstrou fibras de colágeno tipo I abundantes, que contribuiram para as características estenosantes deste tumor. Esses CCEs esofágicos devem ser incluídos no diagnóstico diferencial de estenose esofágica.
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