Relações lógico-semânticas na organização sequencial da argumentação em textos: um estudo sistêmico-funcional
Resumo
Em seu dia a dia, as pessoas posicionam-se com frequência acerca de fatos em repercussão no momento. Há, inclusive, diversos gêneros do discurso em que se manifestam esses posicionamentos, como é o caso do artigo de opinião, da carta aberta e do editorial, todos pertencentes ao contexto midiático. Em gêneros como estes, autores empregam argumentos que fundamentam o ponto de vista (tese) defendido, e itens léxico-gramaticais são utilizados para articular os argumentos ao posicionamento e os argumentos entre si. Essas ligações ocorrem, então, a partir de relações de sentido. Partindo disso, este trabalho visa a analisar como relações lógico-semânticas atuam na organização sequencial da argumentação em gêneros argumentativos divulgados no contexto midiático brasileiro. Para tanto, conta-se com o aporte teórico da Linguística Sistêmico-Funcional (HALLIDAY; MATTHIESSEN, 2004; 2014), mais especificamente de sua ferramenta de análise, a Gramática Sistêmico-Funcional, por meio das relações lógico-semânticas do complexo oracional. Essas relações são organizadas em dois sistemas, expansão e projeção, os quais se entrelaçam com os sistemas táticos, parataxe e hipotaxe. A expansão envolve as categorias de extensão, elaboração e intensificação; a projeção engloba a locução e a ideia. Cada uma dessas categorias de relações lógico-semânticas compreende outras categorias específicas. Além disso, este estudo tem o embasamento teórico de abordagens sobre argumentação (PERELMAN; OLBRECHTS-TYTECA, 2014; REBOUL, 1998; dentre outros), gêneros (BAKHTIN, [1992] 2011), sobretudo na perspectiva da Sociorretória (MILLER, 1984; BAZERMAN, 2005; dentre outros) e gêneros argumentativos, mais especificamente aqueles que compõem o corpus: artigos de opinião (RODRIGUES, 2005; COSTA, 2008; dentre outros), cartas abertas (FUZER; GONÇALVES, 2016; SILVA, 2002; dentre outros) e editoriais (MELO, 1994; ALVES FILHO, 2006; dentre outros). Nesse sentido, o corpus é constituído de quarenta e cinco textos (quinze artigos de opinião, quinze cartas abertas e quinze editoriais) publicados em veículos midiáticos brasileiros entre março e setembro de 2016, os textos versam sobre o impeachment de Dilma Rousseff, tema em repercussão durante esse período. Para o desenvolvimento do estudo, realizou-se uma pesquisa qualitativa de suporte quantitativo, cuja análise desenvolveu-se em três etapas: contextual (investigação acerca da configuração contextual dos textos), textual (identificação de tese e argumentos e categorização, contabilização e sistematização das relações lógico-semânticas que os unem) e semântico-interpretativa (interpretação dos dados, verificação da contribuição dessas relações recorrentes para a argumentação nos gêneros). Resultados indicam que a maioria dos textos apresenta argumentos com estruturas aninhadas em seu interior (fenômeno aqui denominado aninhamento), bem como o predomínio de relações de expansão em todos os gêneros, principalmente de intensificação e extensão. Na articulação entre argumentos e tese, são mais comuns relações de intensificação, sobretudo de causa:razão; já entre argumentos, o predomínio é de relações de extensão, especialmente as de adição aditivas positivas e opositivas, seguidas das de intensificação. Portanto, fica evidente a preocupação dos autores com justificar a escolha da tese, apresentando argumentos que a fundamentam, bem como com fazer progredir a argumentação, buscando, essencialmente, a inserção de informações novas, que são somadas ou contrastadas a anteriores ou, ainda, que servem para circunstancializá-las, em termos de causa: razão predominantemente.
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